24/06/2020 às 16h52min - Atualizada em 24/06/2020 às 16h52min

Nuvem de gafanhotos vai à região argentina próxima do Brasil pela 1ª vez em 73 anos

- Louise Queiroga
Uma nuvem de gafanhotos que avança pela Argentina desde maio, tendo como origem o Paraguai, ameaça plantações da província de Corrientes, que faz fronteira com o estado do Rio Grande do Sul. Um alcance dos insetos nesse nível não é registrado na área fronteiriça desde 1947, de acordo com a engenheira agrícola Mariela Pletsch, diretora do departamento de Produção Vegetal e Saúde do Ministério de Produção de Corrientes.
Em entrevista a portais de notícia argentinos, Pletsch disse que a nuvem de gafanhotos deve chegar a Corrientes por Lavalle. Ela ressaltou, porém, que o perigo não é direcionado às pessoas, mas sim às plantações. Por isso, produtores foram orientados sobre maneiras de evitar danos "porque (os gafanhotos) comem tudo o que encontram". Entre as recomendações está a de tentar controlar a reprodução, pois as fêmeas podem pôr de 80 a 100 ovos. Além disso, a atividade pecuária também pode ser afetada, ainda que indiretamente.
Diante deste cenário, que repercutiu nas redes sociais nesta terça-feira, dia 23, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil disse ter recebido informações do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) sobre a nuvem de gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata que encontra-se próxima à fronteira com o país.
"Segundo o monitoramento climático que vem sendo realizado pelos especialistas argentinos, a praga deve seguir em direção ao Uruguai", afirmou a pasta num comunicado emitido na noite de terça-feira.
O Mapa ressaltou ter emitido um alerta para as Superintendências Federais de Agricultura "para que sejam tomadas as medidas cabíveis de monitoramento e orientação aos agricultores da região, em especial no estado do Rio Grande do Sul, para a adoção eventual de medidas de controle da praga caso esta nuvem ingresse em território brasileiro".
A pasta disse ainda que "as autoridades fitossanitárias brasileiras estão em permanente contato" com as da Argentina, Bolívia e Paraguai por meio do Grupo Técnico de Gafanhotos do Comitê de Sanidade Vegetal (Cosave).
"Esta praga está presente no Brasil desde o século XIX e causou grandes perdas às lavouras de arroz na região sul do País nas décadas de 1930 e 1940", informou o Ministério da Agricultura. "Desde então, tem permanecido na sua fase 'isolada' que não causa danos às lavouras, pois não forma as chamadas 'nuvens de gafanhotos'. Recentemente, voltou a causar danos à agricultura na América do Sul, em sua fase gregária (formação de nuvens)".
Em um dia, os gafanhotos podem viajar até 150 quilômetros, com potencial para ir, seja de uma província a outra ou de um país para outro, em poucas horas. De acordo com a Senasa, a nuvem atual já percorreu mais de mil quilômetros desde o Paraguai e, embora seja uma praga rural, torna-se urbana, chegando a vilas e cidades.
 Ainda que até o momento não tenham sido registrados danos às plantações de Corrientes, onde um controle parcial da praga foi realizado no sábado, dia 20, os insetos já estão próximos à província de Entre Ríos.
Os fatores que levaram ao ressurgimento desta praga em sua fase mais agressiva na região estão sendo ainda avaliados pelos especialistas e podem estar relacionados a uma conjunção de fatores climáticos, como temperatura, índice pluviométrico e dinâmica dos ventos.
O gafanhoto é a praga que iniciou ações oficiais no campo da proteção de plantas na Argentina e registra danos desde 1538, quando plantações de mandioca foram devastadas na província de Buenos Aires.
Durante a primeira metade do século XX, o gafanhoto migratório foi o mais prejudicial na Argentina, causando perdas econômicas significativas nas lavouras e campos naturais em grandes regiões.
A Senasa destacou que, embora os controles ajudem a reduzir o número de gafanhotos, o nível da população permanece alto. Por esse motivo, é essencial que os produtores monitorem seus campos para detectar a presença da praga, realizem os controles correspondentes em conformidade com as normas vigentes e notifiquem as autoridades.
O órgão argentino usou do bom-humor recentemente para responder usuários no Twitter que comentavam a praga dos gafanhotos. Um deles, usou um GIF mostrando um personagem dos Simpsons, e a Senasa disse: "Nas décadas de 40 e 50, foram caçados à maneira de Hank Scorpio. Eles têm um estágio em que não voam, apenas pulam. Naquela época, eram encurralados com chapas metálicas e atingidos com lança-chamas".
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