30/10/2017 às 12h05min - Atualizada em 30/10/2017 às 12h05min

Lucia Pica, diretora de maquiagem da Chanel, fala sobre carreira e beleza

Com uma visão transgressora, a italiana Lucia Pica, diretora de maquiagem da Chanel, trouxe um respiro cool e subversivo à maison francesa. Em Paris, conversou com Marie Claire sobre a força das cores vibrantes e por que prefere um lápis borradinho a um esfumado perfeito

revistamarieclaire.globo.com - Fernanda Moura Guimarães
Em uma viagem à Califórnia, em busca de inspiração profissional, no ano passado, Lucia Pica, diretora global de cor e maquiagem da Chanel, não viu um tom que a inspirasse. “Fiquei desesperada. Estava rodando havia horas e tudo o que via era bege, marrom e branco. Pensei: isso não vai funcionar”, lembra.
 
A angústia tinha motivo: a expedição pela Costa Oeste americana fora programada para que ela buscasse referências para a criação da coleção do make de outono-inverno 2017 da marca francesa. Mas, ao anoitecer, as ideias clarearam. “Tons de laranja e azul surgiram no céu e voltei a acreditar no projeto”, conta, aos risos. O resultado da jornada é uma linha de 25 produtos, com tonalidades vibrantes, que chega ao Brasil no fim de novembro.
 
Na campanha, um look que mescla sombra verde e batom laranja – algo surpreendente para uma marca clássica como a Chanel – ilustra o novo momento da beleza da maison, que virou de cabeça para baixo desde que a maquiadora assumiu o posto, em 2015. Nascida em Nápoles, na Itália, Lucia é apaixonada por cores vibrantes, em especial o vermelho, marca registrada de seu trabalho. A cor, clássica para os lábios, ainda é pouco usada nos olhos. Isso até Lucia lançá-la como tendência, no início do ano, quando mostrou Kirsten Stewart de boca escarlate e olhos esfumados carmim.
 

Sombra cremosa memory (Foto: Divulgação)

Sombra cremosa memory (Foto: Divulgação)


Sombra cremosa Memory (Foto: Divulgação)
 
A BELEZA DA IMPERFEIÇÃO
Desde criança, Lucia adora maquiagem, mas nunca pensou em trabalhar na área. A chave virou quando se mudou para Londres há quase 20 anos, onde vive até hoje. “As pessoas na Inglaterra são muito interessadas em coisas estranhas; gostam de excentricidade. Até por isso, me sinto muito confortável com minha mancha (vermelha, de nascença, que cobre quase o braço direito inteiro). Sou feliz, forte e aceita”, disse este ano à revista britânica The Gentlewoman. Como hobby, decidiu fazer um curso de make, que pagou com o dinheiro que recebia trabalhando como garçonete. Talentosa, começou a se destacar e fazer assistência para outros maquiadores em desfiles e ensaios. A reviravolta aconteceu quando se tornou pupila da inglesa Charlotte Tilbury, um dos nomes mais importantes do mercado, com quem ficou por três anos. Depois disso, partiu para a carreira solo e passou a trabalhar com fotógrafos como Mario Testino e grifes como Dolce & Gabbana e Louis Vuitton.
 
Antes de tomar as rédeas da criação na beleza da Chanel – ela é a primeira mulher a assumir o cargo, substituindo o posto deixado por Peter Phillips, hoje na Dior –, Lucia já havia feito algumas campanhas para a marca. O resultado agradou e hoje ela vive entre os estúdios de criação de Londres e Paris, além de assinar editoriais para revistas de forma independente.
 
A paixão por tons intensos nem de longe é considerada uma barreira em suas criações, mas Lucia a encara como o principal desafio. “Preciso desenvolver produtos que dialoguem com uma mulher global, que pode estar na Coreia ou no Brasil. Os looks têm de celebrar essa diversidade”, diz. Ela despreza os tutoriais de internet – os considera um “tanto autoritários” – e prefere apenas sugerir como aplicar determinado produto ou adaptar uma técnica. “Se todo mundo usar maquiagem do mesmo jeito, vamos ficar todos iguais.”
 
Até por isso, Lucia também é contra a busca pela perfeição. “Os produtos existem mais para ressaltar o que há de melhor do que para esconder. Os defeitinhos fazem parte da beleza, gosto quando há algo meio fora do lugar. Na maquiagem e na vida”, conta. “Venho de Nápoles, que é lindo e caótico ao mesmo tempo. Quem vive em grandes cidades, como Rio e São Paulo, entende isso.”
 
DICAS DA EXPERT
Para usar as sombras vibrantes, must have da temporada, Lucia sugere parcimônia. “Comece no contorno do olho, de maneira sutil.” Contrariando as regras que ensinam a focar em um ponto de cada vez, a maquiadora é categórica: “Por que não? Gosto muito de uma boca vinho e um olho esfumado em azul índigo. Funciona em todos os tons de pele, principalmente nas mais escuras.” Para compor o look “tudo ao mesmo tempo”, Lucia aposta em uma pele natural. “O segredo de um acabamento com viço é aplicar pouco produto – às vezes apenas um corretivo hidratante nas áreas que precisam de cobertura é melhor do que uma base no rosto todo. E aplique o pó com um pincel pequeno (pode até ser um de sombra) nas áreas onde a pele tende a ficar mais oleosa.”
 

Esmalte horizon line (Foto: Divulgação)

Esmalte horizon line (Foto: Divulgação)


Esmalte Horizon Line (Foto: Divulgação)

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