13/09/2017 às 13h57min - Atualizada em 13/09/2017 às 13h57min

Como Karina Bacchi: por que os brasileiros estão importando sêmen?

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De fevereiro a agosto, um dos assuntos mais comentados da internet brasileira foi a gravidez de Karina Bacchi. Aos 40 anos, a atriz e apresentadora tornou pública sua produção independente, feita com uma FIV (fertilização in vitro) por meio de um doador de sêmen internacional. 
 
Assim como Karina, Marina*, 29, e Amanda*, 30, que são casadas há cinco anos, decidiram engravidar em 2017. Diante das possibilidades, decidiram pelo mesmo método, a FIV, por conta das chances de acerto serem maiores do que a inseminação artificial. A escolha do doador também foi feita em um banco de espermatozoides estrangeiro.
 
Karina e o casal não estão sozinhos na preferência pelo material gringo. Segundo o 1° Relatório de Amostras Seminais para uso em Reprodução Humana Assistida da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), divulgado em agosto deste ano, a importação cresceu 2.500% entre 2011 e 2016.
 
Muito além dos olhos claros
Os doadores de olhos azuis estão em primeiro lugar na busca –o cabelo mais procurado é o castanho--, mas Arnaldo Cambiaghi, coordenador e diretor do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia Obstetrícia e Medicina da Reprodução), afirma que a justificativa para o crescimento está na segurança que os bancos de fora proporcionam.
 
"Os testes genéticos são mais aprofundados, tanto para doenças quanto para a qualidade do sêmen. Além disso, as pessoas procuram características que se assemelhem às próprias famílias, desde físicas até de personalidade, como os esportes preferidos, profissão e hobbies", diz o especialista.
 
Karina disse ao UOL que demorou três meses, aproximadamente, para decidir o doador. Ela pesquisou bancos brasileiros e internacionais e, nos estrangeiros, encontrou mais segurança. "Procurei alguém com quem eu pudesse me identificar e reconhecer, não apenas fisicamente, mas num contexto geral. Consegui saber impressões dele sobre diversos assuntos, como religião, por meio de entrevistas gravadas."
 
De acordo com Marina, foi exatamente esse o motivo da preferência. Ela e a mulher conseguiram ter acesso a fotos do doador quando criança e na idade adulta, além de resultados positivos de outras fertilizações para as quais o sêmen dele foi utilizado. Diante disso, a diferença financeira –que, nesse caso, foi de cerca de R$ 1.500, ficou em segundo plano.
 
“Procuramos traços parecidos com os nossos e, principalmente com a Amanda, já que os óvulos fecundados são meus.”, contou. O casal aguarda pelas férias de dezembro, quando poderão estar juntas em casa, para fazer a transferência e esperar pelo "positivo". 
 
Falta regulamentação e sobra demanda
A advogada Claudia Nakano, especialista em direito à saúde, corrobora a afirmação de Cambiaghi e credita o crescimento à falta de regulamentação para o assunto no Brasil. Por aqui, a doação deve ser voluntária – o que resulta em menor quantidade-- e estritamente anônima, sem dados psicológicos, por exemplo.
 
“Bancos internacionais abriram escritórios no país e facilitam essa importação, que só pode ser feita por intermédio de uma clínica de fertilização. Ninguém pode comprar sêmen sem ter iniciado um tratamento e o aval médico”, explica.
 
O relatório da Anvisa mostrou que o crescimento de importação foi maior entre casais homossexuais femininos (279%) e mulheres solteiras (114%). O diretor científico do Fairfax Cryobank Brasil, banco norte-americano, diz que o interesse pelo sêmen gringo sempre existiu, mas a dificuldade nos trâmites “represava a demanda”.
 
“A qualidade do sêmen brasileiro não se deixa a desejar em relação ao internacional. Mas não há quantidade nem informação suficiente. São mais de 160 clínicas especializadas em reprodução humana, é muita gente.”
 
Para Claudia Nakano, esse primeiro relatório pode ser um caminho para trazer à tona um assunto que precisa de respaldo legal. “A doação de espermatozoides é opção para quem não consegue ter filhos por meio de produção natural e uma tendência mundial. É preciso regulamentar para acabar com o mercado negro, que ainda acontece por conta de a comercialização ser proibida no país.”

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