05/09/2019 às 12h46min - Atualizada em 05/09/2019 às 12h46min

Militares morreram mais em confrontos que soldados em guerras

De três a quatro policiais se afastam diariamente por causa de problemas psiquiátricos

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O presidente de análise de vitimização da Polícia Militar, coronel Cajueiro, disse nesta quarta-feira (4) que em 25 anos 3.508 policiais militares morreram de causas não naturais e 15.881 ficaram feridos em confrontos; um total de 110 mil homens e mulheres serviram a corporação durante esse tempo. Os dados foram apresentados durante uma audiência pública da Frente Parlamentar em Defesa dos Agentes da Segurança Pública, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). 

“A taxa de mortos nesse período foi de 3,19% e a de feridos de 14,44%. Na Primeira Guerra mundial, por exemplo, houve uma taxa de mortos de 2,46%, e na Segunda Grande Guerra registrou-se o percentual de 2,52% de mortos. Infelizmente é mais perigoso ser policial militar no Rio de Janeiro”, comparou o coronel. Ele ainda acrescentou que de três a quatro policiais militares se afastam por dia por causa de problemas psiquiátricos.

No entanto, Cajueiro afirmou que houve uma redução no número de mortes de agentes da PM até o mês de setembro deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Em 2019 o registro é de 39 mortos, enquanto em 2018 um total de 70 policiais foram a óbito”, concluiu o coronel.

 

Audiência

 

 

Coronel Cajueiro, defendeu uma mudança na lei 6764/18. A regra determina que policiais, civis e militares, assim como bombeiros, além de inspetores de segurança e administração penitenciária que foram ou venham a ser aposentados ou reformados por incapacidade definitiva e considerados inválidos, em razão de paraplegia ou tetraplegia, ou por causa da amputação de membro por acidente de serviço, fará jus ao auxílio-invalidez, a ser pago, mensalmente, no valor de R$ 3.000,00. Segundo o coronel, a lei está mal redigida porque só dá benefício a cadeirantes e precisa ser modificada e ter uma maior abrangência.

“A invalidez não é só a questão de alguém que perdeu uma perna ou está tetraplégico. Temos o exemplo de um soldado que não enxerga e que também é inválido. Assim como alguns outros que perderam massa encefálica e que só falam três palavras, entre outros casos”, afirmou o coronel.

O presidente da Frente Parlamentar, deputado Renato Zaca (PSL), ressaltou que pretende lutar pela mudança na regra.

“A lei não é ampla; está restrita. O maior medo do policial militar hoje não é morrer e sim ficar numa cadeira de rodas ou em uma cama sem ter o respaldo do Estado. Estamos correndo atrás para ampliar o benefício para deficientes visuais e dar conforto e segurança para quem está trabalhando”, disse o parlamentar.

Um exemplo dessa falha na lei é o caso do soldado reformado Rodrigo Vaz Silveira, de 35 anos. Ele foi baleado há seis anos durante confronto na comunidade Adeus Bahiana, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e ficou cego, além de ter problemas problemas cerebrais e de locomoção. E o soldado não recebe o benefício.

“Estou vivo pela misericórdia de Deus. Esse auxílio só ampara os cadeirantes e os amputados. É um auxílio discriminatório porque há pessoas em estado tão grave quanto os cadeirantes e amputados, como eu. Temos que lutar para estender o benefício’, disse Rodrigo.

A secretária estadual de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência, Major Fabiana (PSL), afirmou que precisa da ajuda de associações para poder melhorar o trabalho do órgão.

“A secretaria começou a funcionar há 27 dias. Faço um apelo a associações de viúvas, feridos em combate e representantes da classe militar para que nos abasteçam de informações. A tropa está doente psicologicamente e precisamos mover algumas engrenagens para evitar suicídios pela fragilidade de condução de policial militar”, ressaltou a secretária.

 

Dura realidade

 

 

Ronaldo Nunes de Freitas, 47 anos, foi baleado na medula em 2014, trabalhando dentro da favela Roquete Pinto, Zona Norte da capital fluminense, ficou dependente de cadeira de rodas e fez uma declaração emocionada durante a audiência pública pedindo um olhar mais atento das autoridades.

“Eu preferia morrer do que estar nessa cadeira de rodas. Nunca mais vou poder brincar com meus filhos, nem de futebol, nem de judô. Fui baleado e meus filhos me esperavam para jogar bola. Nós precisamos de ajuda”, desabafou Ronaldo, que foi aplaudido de pé por todos no auditório.

O agente reformado por invalidez disse ainda que, apesar de sua condição ser irreversível, ele precisa ir à diretoria de assistência de social da PM de três em três meses renovar receita para pegar medicamentos de uso contínuo.

A Polícia Militar também aposentada Fernanda Lovatti da Costa, de 34 anos, atualmente se equilibra por meio de muleta após ter sido baleada na coluna em dezembro de 2018. Ela também fez um relato emocionado.

“Saí de casa bem de saúde para fazer um patrulhamento na favela do Jacaré (Zona Norte do Rio de Janeiro) e quando fui baleada não senti mais as minhas pernas. Um buraco se abriu em minha vida e nunca mais voltarei a ser quem eu era”, disse Fernanda.

Também estiveram presentes na audiência os deputados Marcelo do Seu Dino (PSL), Filipe Poubel (PSL), Márcio Gualberto (PSL), a deputada Martha Rocha (PDT), o coordenador de apoio aos agentes de segurança pública, Sérgio Gasparelli; e representantes das comissões de vitimização das polícias civil e militar.


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