31/08/2019 às 17h57min - Atualizada em 31/08/2019 às 17h57min

AMARmentar. Não apenas para saciar a fome do bebê a amamentação é uma demonstração de amor

Recomendado pela OMS as crianças deveriam ingerir leite materno por no mínimo dois anos. Embora essa prática não seja comu\\m ainda no Brasil, várias mulheres defendem a amamentação prolongada

REGIANE ROMÃO
Beatriz um ano e onze meses de livre demanda CREDITO DA FOTO: Arquivo Pessoal
Durante todo o mês de agosto comemorou-se o “agosto dourado”, dedicado ao aleitamento materno.
Embora a amamentação exclusiva seja indicada nos seis primeiros meses de vida e após a introdução alimentar até no mínimo dois anos, a média de amamentação entre as brasileiras é de, dias.
Para ressaltar a importância da amamentação o JCN entrevistou a mamãe da Beatriz de um ano e 11 meses, e consultora de amamentação Késia de Oliveira, de 28 anos. Ela é formada em Instrução em Aleitamento Materno pelo CEFET – MG. Além disso tem especialização em desmame e translactação.
JCN – Você tem essa formação desde quando?
KÉSIA – Me formei aos 16 anos em técnica em Enfermagem e nem pude atuar, pois o meu registro só saiu quando completei 18 anos.
JCN – Como a Instrução em Aleitamento te ajudou quando se tornou mamãe da Beatriz?
KÉSIA – Essa formação me mostrou que amamentar é desafiador. É importante estar preparada para o que vier. Tenho certeza que o leite materno é o melhor alimento e que todas são capazes de amamentar. Nada do que as pessoas digam ou façam pode mudar essa certeza.
JCN – O que significa a amamentação para você?
KÉSIA – Amamentar para min significa doação e amor incondicional. Significa olhar para minha filha e perceber que sou a fonte de nutrição e carinho que ela precisa e deseja, com isso posso sentir que somos muito mais conectadas.
JCN – A amamentação traz algum benefício para as mães?
KÉSIA – A amamentação para a mãe traz benefícios como a liberação de hormônios que substancialmente aliviam o estresse, cansaço e demais situações ligadas ao maternar. Já na parte estética, as mulheres que amamentam em livre demanda recuperam o peso anterior à gestação com maior facilidade, além de ter uma melhora no sistema digestivo e imunológico (a parte imunológica é altamente melhorada para que o bebê receba anticorpos de maneira adequada, protegendo ainda mais o recém-nascido). Em relação ao nível cerebral e os demais órgãos, quando a mãe consegue amamentar desde há primeira hora todo o seu organismo funciona de maneira mais eficaz e suas células entendem mais rápido que o bebê já nasceu e que agora precisa de uma mãe ativa.
JCN – O que é livre demanda?
KÉSIA – Livre demanda é o acesso ilimitado ao leite materno. Antes e após refeições, quando sofre uma queda, quando está com fome, e também quando quer apenas um aconchego. É tipo um drive thru de leite materno, 24 horas por dia.
JCN – Com a livre demanda o bebê não pode engordar demais?
KÉSIA – A minha filha Beatriz é um bom exemplo disso. O pediatra dela por alguns meses insistiu que ela não deveria estar em livre demanda. Mas vou explicar: o leite materno é tão incrível que mesmo o bebê alcançando níveis acima do esperado nas tabelas da vida, o organismo não é afetado no nível metabólico. Não é reprogramado para criar um ser que será obeso na fase adulta. Pelo contrário, o leite materno até pelo menos dois anos previne doenças como diabetes, obesidade, alterações de colesterol e tantas outras. É uma fonte riquíssima de afeto e imunidade. Tudo que eu digo é provado por pesquisas científicas. É muito importante que as mães tenham acesso a essas informações e não aceitem a orientação para a introdução de outro tipo de leite baseado no argumento peso, seja ele alto ou baixo.
JCN – O que você acha do termo “desmane noturno gentil” ?
KÉSIA – Não existe desmame gentil. Não existe desmame ocasional por horário em que o bebê entenda que o processo está sendo gentil. Esse termo me incomoda muito, afinal, a criança que é a principal interessada não manifestou em nenhum momento que está sendo tudo gentil para ela naquele momento. O desmame noturno aumenta o nível de cortisol no cérebro do bebê que é submetido a uma alta carga de estresse no momento em que ele mais deveria estar relaxado. Nosso organismo funciona por etapas, por exemplo, às 22 horas nosso cérebro precisa de um ambiente calmo e tranquilo para absorver tudo que aprendeu durante o dia. Provocar um desmame noturno é como destruir todo sentimento envolvido com o maternar, provocando um trauma que será refletido futuramente com comportamentos de ansiedade, distúrbios do sono, distúrbios alimentares e por aí vai. O desmame gentil é o desmame NATURAL, que é guiado pela própria criança e é gradual e respeitoso.
JCN – Você acha que a falta de informação é a maior causa do desmame precoce ou até mesmo o não aleitamento materno?
KÉSIA – Com toda certeza, a falta de informação associada à falta de uma rede de apoio são causas do desmame precoce.
JCN – Porque é preciso ter uma rede de apoio?
KÉSIA – Principalmente nos primeiros meses, a mãe ainda está aprendendo a ser mãe. Ao contrário do que dizem, quando nasce um bebê não nasce uma mãe, a gente aprende a ser mãe com o passar do tempo, aprende a lidar com o bebê e com as suas demandas. Sem essa ajuda, essa rede de apoio existe uma sobrecarga de nutrir o filho, precisa se alimentar, cuidar da casa e todas as outras responsabilidades do dia a dia. Quanto menos apoio tem, mais cansada ela fica e com isso ela acha que está cansada de amamentar, quando na verdade o que está deixando a mãe cansada é estar sozinha em todo esse processo.
JCN – É verdade que existe leite fraco ou pouco leite?
KÉSIA – Pouca produção de leite existe. Leite fraco não. Existem mulheres que por algum motivo não produzem a quantidade de leite que gostariam e que seria suficiente para o filho e com isso se inicia um ciclo vicioso. Oferecem fórmulas em mamadeira, o bebê faz confusão de bicos, com isso mama no peito cada vez menos e com isso a produção diminui ainda mais. Alguns fatores levam a baixa produção de leite, a depressão pós-parto, redução mamária com prótese (Mastopexia anterior que é quando o silicone é colocado de uma maneira que atrapalha a passagem do leite pelos ductos). Há uma forma da produção de leite aumentar, e é simples, deixar o bebê mamar. Deixe que ele mame muito, em torno de 12 a 14 vezes por dia e de forma ilimitada, ou seja, a livre demanda. Infelizmente, algumas mamães não podem ou não conseguem fazer a amamentação em livre demanda por falta de uma rede de apoio e com isso, muitas desistem da amamentação. Quanto ao leite fraco, 1 ml de leite materno apresenta 10 mil vezes mais nutrientes que 280 ml de fórmula.
JCN – A Organização Mundial da Saúde – OMS recomenda a amamentação até no mínimo dois anos. Existe uma idade “certa”?
KÉSIA – Não há uma idade certa. Eu diria que o tempo certo é o tempo que funciona bem para cada família, mas quero ressaltar que funcionar bem não significa que a mãe só deve amamentar se tudo estiver um mar de rosas, porque isso não acontece todos os dias. É preciso perceber a necessidade de cada bebê e se esforçar para cumprir o que precisa ser feito.
JCN – Existe algum sinal por parte da criança que indique o desmame?
KÉSIA – Existe sim. Uma criança está pronta para desmamar quando começa aos poucos perder o interesse pelo seio e vai aos poucos dizer que o leite não está mais gostoso ou que está estragado mesmo. Eles costumam dizer essas palavras quando não estão mais querendo mamar.
JCN – Como mãe, você está pronta para esse momento?
KÉSIA – Eu desejo muito que o desmame da Beatriz seja natural, mas não sei se aguento até lá, visto que isso pode acontecer só pelos seis anos. Mas, sim, eu me sinto pronta, seria uma realização muito grande partir dela o desmame, eu me sentiria muito bem em ter conseguido esperar a iniciativa dela, e tenho certeza que para mim ficaria uma saudade muito gostosa de todos os nossos momentos em aleitamento.
JCN – O que é mais difícil na amamentação?
KÉSIA – A disponibilidade. Já parou para pensar o quanto uma mãe que amamenta em livre demanda precisa estar disponível para o bebê? Não é fácil, são noites e dias emendados. É uma grande doação.
JCN – Deixe uma mensagem para as futuras mamães e também para aquelas que estão com dificuldades na amamentação:
KÉSIA – Você sabe amamentar, você pode e você consegue sim! Não deixe que nada, nem ninguém façam você acreditar o contrário disso. Existem sim situações que você não pode mudar ou controlar e se esse for o seu caso, fique em paz, você sempre estará escolhendo o melhor para o seu bebê. Mas se você ainda acredita que pode amamentar, não desista, procure ajuda, procure informações e siga em frente. Gosto de deixar um exemplo bobo e meio bruto que faz diferença em quase todas as minhas consultorias: você conhece alguma vaca que não amamentou o seu bezerro? Já ouviu falar de alguma vaca que não tinha leite ou o leite era fraco? Talvez até exista, mas não é comum, certo? Sabe por quê? Porque não tem ninguém falando na cabeça da vaca que ela não é capaz, que o leite dela é fraco e que ela precisa do leite de cabra para nutrir o bezerro dela. Então acredite no seu leite, na sua força e no seu maternar. Busque orientação, ajuda, esgote todas as possibilidades, você está fazendo ou fará um ótimo trabalho.

Amamentar é cansativo, mas é um sentimento inexplicável também

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