30/01/2019 às 09h38min - Atualizada em 30/01/2019 às 09h38min

Se sente mais gordo ao ver as redes sociais? Não acredite em tudo que há lá

paolamachado.blogosfera.uol.com.br - Paola Machado
Crédito: iStock
Vocês já perceberam que nossos espelhos viraram a tela do celular? Em todas as questões, desde o espelho propriamente dito, com a câmera frontal, até o que observamos nas redes sociais.
 
As pessoas costumam seguir outras que nem sempre são o que elas demonstram ser ou desejam ser. Complexo, não é mesmo? Aí você chega e fala: "Quero ter o corpo dessa pessoa!". Eu te pergunto: como você vai focar em ter um corpo que, muitas vezes, nem essa pessoa de fato tem ou às vezes ela não está satisfeita e, acima de tudo, é um corpo que pertence somente a ela.
 
Além da manipulação de fotos que pode acontecer, temos vários pontos que devemos levar em consideração como genética, estratégias ergogênicas e muitos outros aspectos que não cabem a nós julgar, pois isso depende da individualidade e também da estratégia e objetivo de vida.
 
O que realmente importa é falar sobre você, sobre as suas vontades, escolhas e onde, de fato, o seu corpo pode chegar. Já parou para pensar quais as suas vontades? Pensar em qual é o limite do seu corpo em aspectos estéticos? O que realmente te deixa feliz?
 
Quando mexemos nas nossas redes sociais é perceptível que comparações comecem a acontecer. Uma amiga mais magra, mais bem vestida, com um penteado que agrada mais voce; ou um amigo mais forte, que adiciona fotos praticando exercícios; ou ainda aqueles compartilhamentos com fotos de mulheres lindas e homens extremamente sarados, que pode deixar uma mente, principalmente as inseguras e autocríticas, louca com tantas comparações.
 
Uma extensa literatura de pesquisas documentou as ligações entre a exposição de imagens de mídia retratadas em redes sociais e a insatisfação corporal ou desordens alimentares.
 
A imagem corporal (IC) pode ser definida como a imagem do corpo construída em nossa mente e os sentimentos, pensamentos e ações em relação ao corpo. A insatisfação corporal é um distúrbio atitudinal da IC, descrito como a avaliação subjetiva negativa da IC, que pode ser avaliada pela discrepância entre a IC real e a idealizada –esta pode ser por meio da projeção do que vemos na internet. A internalização do padrão do corpo "ideal", ou seja, a incorporação do valor ao ponto de modificar as atitudes e comportamentos pessoais, é um importante mediador da insatisfação corporal.
 
A imagem corporal é, portanto, influenciada por diversos fatores e três deles têm maior importância: os pais, os amigos e a mídia. Esta última, sinônimo de "meios de comunicação social", é a mais pervasiva das influências.
 
Em uma revisão sistemática sobre o impacto do uso das mídias sociais na imagem corporal e no comer transtornado aponta como problemática algumas atividades nessas redes, tais como visualização e upload de fotos. Essas atividades favoreceram a comparação social baseada na aparência, reforçando sua relação com a IC e o comer transtornado.
 
Um outro estudo realizado pelo Centro de Transtornos Alimentares mostrou que o feed das redes sociais torna mais fácil a comparação entre os usuários. Um em cada três usuários se sente mais tristes quando compara as suas fotos com as dos amigos. Foram pesquisados 600 usuários do Facebook, entre 16 e 40 anos. As mulheres mostraram que gostariam mais de perder peso, porém foram os homens mais expressivos com o descontentamento, tendo mais comentários negativos sobre seu próprio corpo. O pesquisador pontua que o Facebook pode desenvolver transtornos alimentares gravíssimos, por fazer as pessoas se sentirem sempre piores que as outras.
 
Até agora, pesquisas correlacionais demonstraram que o uso do das redes sociais está associado à insatisfação corporal e à desordem alimentar. Em uma análise mais detalhada das atividades envolvidas no uso das redes sociais, pesquisas concluem que o que mais prejudica a distorção de imagem é a atualização de feed — visualização de fotos –, tempo gasto para postar e escolher uma foto e edição de fotos. Essas descobertas sugerem que podem ser os componentes da aparência e da imagem visual das redes sociais que mais se destacam no que diz respeito às preocupações com a imagem corporal.
 
Uma tendência recente é a "fitspiration". Fitspiration consiste em imagens que são projetadas para motivar as pessoas a se exercitarem e buscarem um estilo de vida mais saudável. Como um todo, o fitspiration promove a saúde e o bem-estar por meio da promoção da alimentação saudável, do exercício e do autocuidado. Em particular, a adequação promove saúde e boa forma, em vez de magreza extrema e perda de peso não saudável. Como tal, a fitspiration tem sido posicionada como uma alternativa saudável à tendência baseada na internet conhecida como "thinspiration". Thinspiration, que consiste em grande parte de imagens de mulheres magérrimas e acompanhando o texto inspirando os espectadores a perder peso e promover um estilo de vida de transtorno alimentar.
 
A fitspiration é encontrada em uma ampla gama de sites, sendo um dos mais comuns o Instagram. O Instagram atualmente tem milhares de usuários e é um player de mídia social único, pois é dedicado à publicação e compartilhamento de fotos.
 
Embora a fitspiration tenha o potencial de considerável influência social positiva na saúde física e mental, há vários aspectos da inspiração que são potencialmente preocupantes. Mesmo uma observação superficial de imagens fitspiration mostrará que a maioria das mulheres nas imagens exibe uma figura relativamente fina e tonificada, o que é muito longe da realidade de muitas mulheres. O fato de essas mulheres serem iguais (no sentido de serem mulheres do dia a dia) em vez de modelos de moda provavelmente levará os espectadores a se engajarem em maiores níveis de comparação social com eles. Além disso, parece haver uma ênfase geral na aparência, com algumas imagens contendo características claramente objetivas, como poses específicas ou foco em partes específicas do corpo.
 
Recentemente, Boepple e Thompson (2016) codificaram os elementos textuais dos websites gerais de 50 thinspiration e 50 fitspiration para mensagens disfuncionais indicativas de transtornos alimentares. Eles concluíram que, embora a fitspiration contivesse menos dessas mensagens do que a inspiração, ambos os tipos de site continham conteúdo temático potencialmente perigoso em termos de enfatizar a restrição e mensagens prejudiciais sobre os ideais corporais das mulheres.
 
Embora a fitspiration seja projetada para ter um efeito positivo e inspirador nas intenções de se engajar em comportamentos saudáveis ​​como exercícios e comer bem, certos aspectos das imagens devem ser observados com cautela.
 
Vou fazer uma pergunta simples: quantas vezes você viu a pessoa que segue postando fotos chorando, com raiva, irritada, com a conta bancária negativa? Raramente, não?
 
A rede social só mostra o melhor lado das pessoas, o sucesso, o seu melhor ângulo, o melhor filtro, quando ainda ocorre a distorção da foto da mesma forma com que a pessoa distorce a vida real.
 
Comece a olhar para você. Não caia na loucura de que você é pior ou melhor que seus amigos. Seja racional e lembre que suas qualidades são melhores que qualquer imagem. As redes sociais podem ser também uma prova de que você consegue não competir e nem se comparar.
 
Referências: – Lira, A.G.; et al. Social media consume, media influence and body dissatisfaction among Brazilian female adolescents. J. bras. psiquiatr. vol.66 no.3 Rio de Janeiro July/Sept. 2017.
– Holland G, Tiggemann M. A systematic review of the impact of the use of social networking sites on body image and disordered eating outcomes. Body Image. 2016;17:100-10.
– Hanna E, Ward LM, Seabrook RC, Jerald M, Reed L, Giaccardi S, et al. Contributions of Social Comparison and Self-Objectification in Mediating Associations Between Facebook Use and Emergent Adults' Psychological Well-Being. Cyberpsychol Behav Soc Netw. 2017;20(3):172-9.
– Thompson JK, Coovert MD, Stormer SM. Body image, social comparison, and eating disturbance: a covariance structure modeling investigation. Int J Eat Disord. 1999;26(1):43-51.
– Kim JW, Chock TM. Body image 2.0: Associations between social grooming on Facebook and body image concerns. Computers in Human Behavior. 2015;48:331-9.
– Fardouly J, Diedrichs PC, Vartanian LR, Halliwell E. Social comparisons on social media: the impact of Facebook on young women's body image concerns and mood. Body Image. 2015;13:38-45.
– Pepin G, Endresz N. Facebook, Instagram, Pinterest and co.: body image and social media. J Eat Disord. 2015;3(Suppl 1):O22.
– Tiggemann M, Zaccardo M. Strong is the new skinny: a content analysis of fitspiration images on Instagram. J Health Psychol. 2016;1-9.
– Mabe AG, Forney KJ and Keel PK (2014) Do you 'like' my photo? Facebook use maintains eating disorder risk. International Journal of Eating Disorders 47: 516–523.
– Boepple L and Thompson JK (2016) A content ana- lytic comparison of fitspiration and thinspira- tion websites. International Journal of Eating Disorders 19: 98–101.

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