10/12/2018 às 14h08min - Atualizada em 10/12/2018 às 14h08min

Violência nas escolas de Niterói

A cada dois meses, 1 professor pede transferência após ameaça de morte

Isabelle Villas Boas
Ofluminense

A cada dois meses, em média, um professor de Niterói pede para ser trocado de escola por ter recebido ameaça de morte. A informação foi passada nesta semana pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) de Niterói. O Sepe informou ainda que muitas ameaças ocorrem sem que o sindicato seja notificado, o que indica que esse número possa ser ainda maior. Há cerca de uma semana, um professor da Escola Estadual Hilário Ribeiro, no Fonseca, Zona Norte de Niterói, teria sido a vítima. Ele denunciou que foi agredido fisicamente por um aluno da unidade, e que segue sofrendo ameaças em redes sociais. O caso foi registrado na 78ª DP (Fonseca).

O professor conta que, no último dia 29 de novembro, aplicava uma prova, em uma turma do 2° ano do ensino médio, com recomendação da direção da unidade para que o aluno permanecesse na sala de aula por pelo menos 50 minutos após o início da avaliação. E que somente após esse horário saísse, conforme acontece em concursos públicos.

“Mesmo com essa ordem, um rapaz de 18 anos não gostou da recomendação, e veio em minha direção. Eu estava de costas para a porta, e tentei convencê-lo a não sair, porque se ele saísse eu teria que anular a sua prova, mas ele não obedeceu. Passando um tempo, ele tentou retornar para a sala de aula, porém segurei a maçaneta com meu braço, travando a porta para que ele não entrasse. Neste momento, ele acabou forçando e tivemos um contato, entre meu braço esquerdo e o peito dele. Até que ele falou: ‘tira o braço porque eu quero passar’. Após isso, insisti para que ele esperasse terminar o horário determinado, e neste momento ele deu um tapa no meu braço e dois passos para trás, como se eu fosse reagir. Quando eu percebi que ele queria brigar, fechei a porta e continuei a aplicação da prova. A sala tem câmera, mas o ângulo em que a ação aconteceu não dava para ser recuperado. Então estou à mercê dos outros alunos confirmarem o que aconteceu”, relatou o professor.

Em nota, a Secretaria de Estado de Educação informou que a direção do Colégio Estadual Hilário Ribeiro e a Diretoria Regional Pedagógica, que coordena a escola, afirmaram que não houve agressão. Apesar da nota, o professor diz que um relatório foi assinado pelo diretor adjunto da unidade, se certificando sobre a ocorrência. Ele disse ainda que a direção teria insinuado que ele desistisse de levar o caso adiante.   

“Assim que terminou a prova fiz, imediatamente, a ocorrência na escola, relatando tudo o que aconteceu. Pedi ao diretor adjunto para assinar o documento, tirei xerox e fui fazer o registro de ocorrência na 78ª DP, no Fonseca. No dia seguinte, o aluno foi chamado pela direção para conversar, que o comunicou sobre a minha atitude. O jovem, então, falou que tinha decidido também fazer um relatório de ocorrência que, pelo o que foi dito pela direção, relata que eu o teria empurrado antes dele me agredir, o que não é verídico”, disse o professor. A ocorrência do aluno também foi feita na 78ª DP. Questionada sobre o andamento das investigações, a Polícia Civil se limitou a dizer que está averiguando o caso.

Nova agressão – Uma semana após o primeiro episódio, o professor conta que voltou a ser alvo de violência na escola. Dessa vez, segundo ele, alunos do 3° ano fizeram, entre diversas ofensas, menções preconceituosas sobre sua má formação física através do WhatsApp. O professor não tem total movimento do braço direito, resultado de uma infecção bacteriana que sofreu quando era mais novo.

“No mesmo dia em que recebi as mensagens, encaminhei para a direção e à coordenação pedagógica da escola. Eles prometeram tomar uma atitude. No dia seguinte, a escola chamou os alunos envolvidos para conversar. Eles teriam dito, então, que teria sido ‘tudo uma grande brincadeira’. Mas uma semana depois do ocorrido, os alunos que fizeram as ofensas me pediram desculpas na frente de todos os outros colegas, reiterando que tudo seria uma brincadeira. Não sei até que ponto foi de coração, porque um deles sorria enquanto falava”, completou. 

Apesar do pedido de desculpas, o professor declarou estar decidido a seguir com a ocorrência. 

“Vou manter porque foi uma situação muito grave, um simples pedido de desculpas não apaga. Acredito que a classe dos professores tem sofrido tanto ao longo dos anos, porque muitas coisas têm ficado impunes. Não sou o primeiro caso de professor que é agredido na escola, mas uma hora temos que dar um basta nisso. Tem professor amigo meu que tem medo de entrar numa sala de aula. Minha esposa pede insistentemente para que eu deixe de lecionar no ensino público, mas eu não posso deixar de exercer a profissão que eu amo. Eu sinto que nasci para fazer, sei que é um dom que carrego. Eu sei que não posso salvar da criminalidade e nem proporcionar uma vida melhor para todos eles, mas alguns tenho convicção de que consigo. Esse é o meu papel”, disse o professor.
 
A direção da escola não quis se pronunciar nem apresentou a versão dos alunos para o caso. Questionado, o Sepe também não se pronunciou sobre o caso específico do professor.


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