20/07/2017 às 13h44min - Atualizada em 20/07/2017 às 13h44min

O longo e árduo caminho dos profissionais da tatuagem

Muito estudo e treino. Alto investimento em material. Conheça a luta diária de dois tatuadores: Pepito, com alguns anos de experiência e Pâmella, com apenas alguns meses

Gilberto Gimenes
Arquivo pessoal
A origem da tatuagem se perde no tempo. Algumas hipóteses datam que seu surgimento foi na pré-história da humanidade, quando nossos antepassados passaram a cobrir os corpos com desenhos feitos dos mais variados tipos de materiais, como carvão e pigmentos de plantas.
As provas arqueológicas mais recentes de tatuagens permanentes são de povos do Egito e da Polinésia e são datados de mais de 4 mil anos A.C.
Uma arte que encanta e fascina, mas que em muitos lugares ainda é vista com maus olhos, chegando ao ponto de prejudicar a vida social de quem resolve marcar a pele.
Mas engana-se quem acredita que o preconceito que existe sobre tatuagens seja algo recente. Documentos atestam que no ano de 787, o Papa Adriano I, baniu a tatuagem da Europa, pois o religioso a considerava uma pratica demoníaca, pois acreditava que os desenhos e marcas banalizavam os corpos, tornando-os impuros.
A origem da palavra tatuagem vem de línguas nativas da Polinésia, onde os habitantes referiam-se as marcas feitas sob a pele como “Tatau”, quando a região foi explorada pelos franceses, estes passaram a chamaras os desenhos de “Tatouage” e logo os vizinhos da Inglaterra criaram o termo que é usado até hoje, Tattoo.
Apesar de ser uma pratica muito antiga no mundo, no Brasil a arte de tatuar é algo relativamente recente. Foi em meados de 1960 que um dinamarquês chamado Knud Harld Lucky Gregersen desembarcou no porto da Cidade de Santos e ali próximo ao cais, abriu a Lucky Tattoo. O local escolhido por Knud, o cais, era frequentado por boêmios e prostitutas que acabavam sendo o seu público. Isso fez com que houvesse uma disseminação de preconceitos e discriminação da atividade de tatuar e de ser tatuado.
A tatuagem ficou banalizada por décadas no país, e ainda hoje não é raro ver casos de discriminação. Isso só passou mudar, quando a arte, antes marginalizada caiu no gosto da cultura pop e abriu campo para que verdadeiros artistas plásticos pudessem mostrar com maestria o seus belos trabalho.  A popularização da atividade fez com que a pratica de se tatuar atingisse todas as classes sociais, sem distinções.
O gosto pela arte sempre foi o combustível daqueles que decidiram se dedicar a atividade de tatuador.
Para o tatuador de Cornélio Procópio, Danilo Pepito (@danilopepito) o gosto e talento para desenhar foram decisivos para entrar nessa atividade. “Sempre gostei muito de desenhar e a primeira tatuagem que fiz foi em mim mesmo. Na época trabalhava numa loja estava meio à toa, acabei estourando uma caneta e com a ajuda de um alfinete desenhei no meu corpo. Um amigo viu e pediu pra eu fazer nele com uma maquinha caseira que ele tinha, depois disso comprei um kit e comecei a tatuar outros amigos”. Mesmo tendo como inicio de carreira, uma forma muito precária, Pepito passou anos aprimorando seus desenhos e em 2014 passou a estudar profundamente a arte de tatuar.


Tatuagem feita pelo tatuador Danilo Pepito
O gosto pela arte também foi o que impulsionou a tatuadora Pâmella Cilayne (@pamcilayne) a entrar na profissão. “Eu sempre gostei muito de tudo que tem relação com arte. Sempre que via algo sobre tatuagem pensava - um dia ainda vou fazer isso" , comentou.
Mas os desafios são inúmeros para aqueles que pretendem seguir na profissão. “No começo é complicado pela insegurança em tatuar outra pessoas. Outro ponto é que um tatuador novato não tem muita escolha, ou ele vai tatuar em casa, ou vira estagiário em algum estúdio, porem aqui no interior são poucos lugares que oferecem espaço.”, comentou Pepito, que deverá inaugurar seu novo estúdio em Cornélio Procópio no próximo mês de agosto.
Pepito como é chamado pelos amigos e clientes, também comentou que o investimento no começo da carreira em equipamentos é algo a ser analisado por quem pretende atuar na área. “O preço do material é muito alto, mas é preciso investir em equipamentos e tintas de qualidade para que seu trabalho se firme positivamente no mercado”.
Dificuldades que para a novata no ramo Pâmella, estão sendo superadas dia a dia. “No meu caso a maior dificuldade é ter que ser quase "autodidata", como a maioria dos tatuadores, estou aprendendo meio que sozinha.” No entanto Pamella afirma que a internet acaba sendo uma fonte de conhecimento para quem deseja ser tatuador. “Hoje em dia a internet proporciona muitos materiais para estudo, algo que não ocorria antigamente. Mas quando se tem alguém para te ajudar é mais fácil, ainda bem que tenho alguma amigos que me dão ajuda com algumas dúvidas. O meu amigo Lucas Kiosh que é de Cornélio também esta me dando uma força no aprendizado. Mas a maioria das coisas é treino e mais treino”, explica.


Desenho criado pela tatuadora Pamella Cilayne
Os dois tatuadores entrevistados pelo JCN, Pepito e Pâmella afirmaram que a carreira do profissional vai se formando com a passar do tempo e que tatuador deve sempre buscar se aprimorar para se destacar no mercado. “Tem muita gente querendo tatuar e poucos tatuadores. Algumas pessoas acham que é um processo rápido e fácil, mas não é bem assim. Além do seu potencial é necessário ser muito profissional e com o passar do tempo, o investimento na sua formação profissional retorna na forma de reconhecimento no mercado, tanto local, quanto regional”, comentou Pepito que disse também apostar em redes sociais para aumentar o seu público.
Mesmo tendo que trilhar um longo caminho ainda para de fato viver de tatuagem, Pâmella se mantem firme em seu propósito. “É uma profissão muito séria, que infelizmente ainda sofre muitos preconceitos. Mas eu estou começando, sei que a caminhada é longa, pretendo ir bem devagar estudando sempre, é o único modo de ser um bom profissional.”

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