A primeira audiência das cartomantes do bairro Batel, acusadas de estelionato e de formação de quadrilha, ocorreu nesta quarta-feira (22), em Curitiba. Trinta e sete pessoas procuraram a polícia alegando terem sido vítimas delas entre 2005 e 2013.
Na quarta-feira, todas elas foram chamadas como testemunhas. Uma das vítimas relata que entregou R$ 95 mil, o valor que recebeu pela venda do apartamento, para uma mulher que se dizia cartomante.
"Eu vendi um imóvel. Aí, elas ficaram sabendo. Aí, vinham atrás pedindo dinheiro pra desmanchar o dito trabalho. Eu só percebi que era um golpe quando eles me chamavam, que diziam que iam devolver o dinheiro e não devolviam", lembra.
A situação ocorreu em 2006. Na denúncia feita pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), Michella Yovanovich disse que existiam trabalhos espirituais malignos e que poderia desfazê-los mediante pagamentos.
Em 2013, uma operação policial prendeu Danielle Gaich Micolitz, então cunhada de Michella, que atuava também com a sogra, Cleidy Yovanovich, em uma espécie de clínica espiritual.
À época, vítimas gravaram vídeos do atendimento, que mostram como elas pediam dinheiro.
Danielly ficou presa por quase um mês. Quando foi solta, alegou que era inocente. “Primeira coisa é que eu sou inocente. Eu moro na mesma casa há 27 anos e eu trabalho. As pessoas vêm me procurar porque querem”, disse à época.
A denúncia, porém, foi aceita pela Justiça. Para o marido de Danielle, os promotores ofereceram um acordo, com prestação de serviço e devolução do dinheiro à vítima.
O processo tem três acusadas de estelionato e formação de quadrilha. Eram diziam que eram tarólogas, videntes, mas, para o MP-PR, eram estelionatárias.
Outra vítima conta que caiu no golpe porque Danielly impressionou pela conversa e pelos truques de ilusionismo.
"Usando canela, ela conseguiu fazer toda uma escrita numa folha de caderno. Naquela escrita aparecia que eu tinha papéis em meus poderes e que, através desses papéis, eu poderia fornecer mais dinheiro para elas", conta.
Ela diz que, nesse momento, falou para a mãe que elas precisavam fazer um empréstimo "para resolver toda a problemática que existia".
Uma terceira vítima relatou que foi enganada pouco antes da prisão, no final de 2013, e que teria sido Cleidy que foi até a casa dela e a convenceu de que espíritos estavam ameaçando o filho dela. Ela entregou joias e outros objetos de valor.
"Ela falou assim: 'Tudo o que você quiser, o que valer dinheiro você pode trazer. Daí, levei algumas coisas e, quando eu vi que ela me prometeu uma semana e não me entregou, prometeu 15 dias e não me entregou, prometeu 21 dias e não me entregou, comecei a ficar desesperada", revela.
"Quero ajudar outras pessoas a não passar mais por isso", completa.