02/08/2018 às 10h56min - Atualizada em 02/08/2018 às 10h56min

Jovem que recusou 100.000 dólares recebe o ‘Nobel da matemática’ no Rio.

O alemão Peter Scholze ganhou a medalha Fields, mais importante honraria na área. Também premiado, iraniano Caucher Birkar teve a medalha roubada no RioCentro.

El Pais

Com 17 anos, tocava baixo em uma banda de rock; aos 24 se tornou o catedrático mais jovem da história da Alemanha, depois de cursar a graduação de matemática em apenas um ano e meio; e com 27 recusou o prêmio New Horizons, dado a jovens matemáticos promissores, com uma dotação de 100.000 dólares. Hoje, aos 30, Peter Scholze é um dos quatro pesquisadores reconhecidos com a medalha Fields, considerada como um prêmio Nobel para matemáticos com menos de 40 anos. Os outros três ganhadores desta edição são o iraniano Caucher Birkar, o australiano Akshay Venkatesh e o italiano Alessi Fegalli.

Os ganhadores da medalha Fields, concedida a cada quatro anos, foram anunciados no Congresso Internacional de Matemáticos que começou nesta quarta-feira no Rio de Janeiro. Essa é a primeira vez que o evento acontece em um país da América Latina e com uma surpresa desagradável. Caucher Birkar teve a medalha furtada no RioCentro (leia mais abaixo), local do evento.

Os quatro nomes eram presenças habituais nos bolões de aposta do prêmio. Scholze, nascido em Dresden em 1987 e recém-nomeado diretor do Instituto Max Planck de Matemática, é o pai de uma nova classe de estruturas geométricas, os espaços perfeitoides, que foram muito úteis no chamado Programa Langlands. Trata-se de “uma teoria fascinante que tece uma teia de aranha de sensacionais conexões entre campos matemáticos que à primeira vista parecem se encontrar a anos luz de distância: álgebra, geometria, teoria dos números, análise e física quântica”, descreve o russo-norte-americano Edward Frenkel em seu livro Amor e Matemática. “Se virmos estes campos como continentes no mundo oculto da matemática, o Programa Langlands constituiria o dispositivo definitivo de teletransporte, capaz de nos levar instantaneamente de um ao outro, de ida e de volta”, acrescenta Frenkel.

Scholze nunca explicou por que recusou o prêmio New Horizons e seus 100.000 dólares, mas em alguns fóruns matemáticos se especula que, sendo já um dos melhores de sua disciplina aos 27 anos, não via sentido em receber um prêmio para pesquisadores promissores. “É considerado como um dos matemáticos mais brilhantes da sua geração”, disse nesta quarta-feira em nota o pesquisador José Ignacio Burgos, do Instituto de Ciências Matemáticas (ICMAT) da Espanha.

A iraniana Maryam Mirzakhani, falecida no ano passado aos 40 anos, é a única mulher entre mais de meia centena de premiados desde 1936. Os quatro homens galardoados nesta edição compartilham sua precocidade. Akshay Venkatesh, nascido em 1981 em Nova Délhi (Índia) e criado na Austrália, ganhou com apenas 12 anos uma medalha na Olimpíada Internacional de Matemática. Aos 13 começou a cursar a faculdade de Matemática e Física na Universidade da Austrália Ocidental. Aos 20 concluiu seu doutorado na Universidade de Princeton, nos EUA, e desde os 27 anos é professor na Universidade de Stanford.

Caucher Birkar nasceu em 1978 em Marivan, uma região curda do Irã, na fronteira com o Iraque. Sua especialidade é a geometria algébrica, um mundo multidimensional em que uma multidão de equações define outra multidão de formas, como as elipses e os chamados ovaloides de Cassini, conforme resume o congresso brasileiro em um comunicado. Birkar, depois de estudar Matemática na Universidade de Teerã, emigrou para o Reino Unido. Hoje, já com a nacionalidade britânica, é catedrático da Universidade de Cambridge.

O quarto galardoado é o italiano Alessio Figalli (Roma, 1984). Hoje catedrático da Escola Politécnica Federal de Zurique, fez sua tese de doutorado em apenas um ano, sob a orientação do francês Cédric Villani, um dos rostos mais conhecidos da matemática mundial graças à sua peculiar maneira de se vestir. Figalli fez “contribuições fundamentais” à chamada teoria da regularidade do problema do transporte ótimo, conforme destaca o ICMAT. “Esta questão consiste em distribuir recursos de forma que o custo de um determinado processo seja o menor possível. Por exemplo, a transmissão de oxigênio às células, ou a distribuição de mercadorias entre um armazém central de uma rede e todos os seus supermercados”, detalha a instituição.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »