Dono de sete postos de combustíveis, Fabiano Zortea, delator na Operação Margem Controlada, que prendeu oito funcionários de distribuidoras na terça-feira (31), afirmou que sofreu represálias por não compactuar com a definição de preços nas bombas por parte dos funcionários das empresas.
"Ou você faz o que ele [funcionário da distribuidora] quer ou sobe R$ 0,09 no custo", disse.
Ele teve a delação homologada pela Justiça em junho. Com base no depoimento de Zortea, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) e a Polícia Civil investigaram o suposto esquema de definição de preços em Curitiba.
"O preço de bomba não deveria interessar. Se eu quiser vender a R$ 1 ou a R$ 10. Ela [distribuidora] te impõe ir para onde quer que você vá", contou o delator.
Zortea levou ao MP e à polícia gravações de conversas com funcionários de distribuidoras, notas fiscais e documentos, que, segundo ele, comprovam a prática que diz ter deixado de aceitar há três anos.
De acordo com o delator, uma empresa terceirizada era contratada para que motoboys fiscalizassem diariamente nos postos fotografando os preços para o controle do suposto esquema.
Conforme o MP-PR, as distribuidoras que suspeitas de integrar o esquema são BR Distribuidora, a Raízen (licenciada da marca Shell) e a Ipiranga, prejudicando a livre concorrência e controlando o lucro dos postos.
"A partir do momento que você, de forma artificial, controla os preços, você impede a concorrência. Impedindo, o maior prejudicado é o consumidor", afirma o promotor Maximiliano Deliberador.
O que dizem as distribuidoras
A Ipiranga informou que está analisando o inquérito e vem prestando apoio aos funcionários que estão presos. A empresa afirmou ainda que pauta sua atuação pelas melhores práticas comerciais e concorrenciais e que o preço final é livre por lei.
A licenciada da marca Shell afirmou que entende ser improvável que a investigação revele qualquer desvio de procedimento ou conduta e que os preços nas bombas são definidos exclusivamente pelo revendedor.
A BR Distribuidora declarou que opera em regime de livre iniciativa e concorrência, em que cada revendedor é livre na determinação do seu preço. Afirmou ainda que não compactua com práticas ilegaisi e que preza pela transparência e ética em todas as suas ações.