02/07/2018 às 20h04min - Atualizada em 02/07/2018 às 20h04min

Pesquisa relaciona prematuridade a sintomas de TDAH e déficit de atenção

Estudo norueguês analisou mais de 113 mil crianças desde o nascimento, com partos realizados entre 22 até 41 semanas de gestação, incluindo irmãos

revistacrescer.globo.com - Milene Saddi
revistacrescer.globo.com - Milene Saddi
Uma extensa pesquisa do Instituto Norueguês de Saúde Pública, publicada no início desta semana, relaciona o nascimento prematuro com sintomas de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) em idade pré-escolar (5 anos), e sintomas de déficit de atenção em crianças em idade escolar (7 anos).
 
Mais de 113 mil crianças, recrutadas ainda em fase de gestação, entre os anos de 1999 e 2008, participaram do processo; incluindo 33 mil irmãos. Foram registrados nascimentos com 22 até 41 semanas de gestação. Os dados, colhidos entre outubro de 2017 e março deste ano, revelaram que os bebês prematuros, nascidos entre 22 e 33 semanas de gestação, apresentaram mais sintomas de TDAH, desatenção e hiperatividade/impulsividade do que os bebês nascidos a termo.
 
“Os resultados ilustram os ganhos potenciais da redução do nascimento prematuro e a importância de fornecer apoio personalizado a crianças nascidas pré-termo para prevenir problemas de desenvolvimento neurológico”, diz o texto da publicação, que ainda aponta para a importância de diferenciar entre desatenção e hiperatividade/impulsividade.
 
“A pesquisa tem relevância significativa, pois é um estudo de coorte, ou seja, de acompanhamento sistemático de uma quantidade enorme de crianças desde o nascimento até a verificação dos primeiros sintomas de TDAH”, explica o pediatra Clay Brites, neurologista infantil (Instituto NeuroSaber). A seguir ele responde algumas perguntas que ajudam a entender o estudo.
 
Qual é a diferença entre TDAH e desatenção?
TDAH é um transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade e impulsividade.  A desatenção é apenas um adjetivo aplicado àquelas pessoas que não se concentram muito. Mas dependendo da intensidade, pode configurar um problema chamado déficit de atenção, que leva a baixo rendimento escolar, dificuldade para resolução de problemas, perda de memória para cumprir tarefas comuns do cotidiano. Nem toda criança com TDAH é hiperativa. Ela pode ser somente portadora de déficit de atenção.
 
Com que idade se diagnostica essas duas condições?
O TDAH pode ser diagnosticado até os 12 anos de vida e neste período é fundamental que a família e a escola juntas observem o comportamento e o rendimento da criança em atividades que exigem esforço mental prolongado e autocontrole cognitivo e emocional.
 
Por que o estudo só é capaz de concluir que há relação entre uma condição e outra?
Porque o risco atribuído à prematuridade no aparecimento do TDAH está mais associado aos sintomas de déficit de atenção (inattention) do que os de hiperatividade (hyperactivity) e muitas vezes fatores genéticos e ambientais podem também concorrer com esta causa biológica - isso pode confundir e tornar obscuro o papel isolado da prematuridade no aparecimento do TDAH. O importante é sempre ficar de olho no déficit de atenção, pois este parece estar mais associado às crianças que nascem prematuras.
 
Do ponto de vista neurológico, com quantas semanas de gestação o bebê está pronto para nascer?
Entre 37 e 38 semanas de gestação.
 

Prematuros não aprendem por antecipação como os bebês nascidos a termo (Foto: Thinkstock)

Prematuros não aprendem por antecipação como os bebês nascidos a termo (Foto: Thinkstock)


(Foto: Thinkstock)
 
Hoje em dia fala-se muito do quarto trimestre – a exterogestação. Quais são as principais orientações para que haja estímulos adequados – nem em excesso, nem em falta – nesse período?
A teoria da exterogestação, ainda em fase de melhor compreensão, defende que o bebê, logo após o nascimento, ainda pode estar reagindo e se comportando como um bebê dentro do útero da mãe e pode necessitar de um suporte mais direcionado a suas necessidades como se lá estivesse. As dicas para um suporte mais adequado nesta fase são:
 
- Praticar amamentação em livre demanda;
- Fazer um “ninho” para que o bebê durma melhor, mas sempre de barriga para cima;
- Dar colo sempre e acolhê-lo;
- Se puder, usar o sling;
- Fazer movimentos repetitivos com ele (mas nunca intensos);
- Dar banho de balde no bebê.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »