16/04/2018 às 15h06min - Atualizada em 16/04/2018 às 15h06min

Pesquisa abre nova perspectiva para impedir a progressão de vários cânceres

vivabem.uol.com.br
Um índice que identifica características capazes de fornecer informações sobre o prognóstico de 33 tipos de tumores, favorece a escolha de um tratamento mais preciso e ajuda a encontrar possíveis alvos para desenvolvimento de novas drogas. Essa novidade foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, em colaboração com grupos internacionais.
 
Os resultados da pesquisa foram publicados na última quinta-feira (5), na Cell, a mais influente das revistas científicas internacionais em biologia molecular e genética. Além dos brasileiros, participaram delas cientistas de Harvard (EUA), e da Universidade de Poznan (Polônia) e outros colaboradores.
 
Para realizar o estudo, os pesquisadores do laboratório Omics, ligado ao Departamento de Genética da FMRP, combinaram o uso de algoritmos de inteligência artificial, grandes quantidades de dados sobre o genoma de 12 mil amostras de 33 tipos diferentes de tumores e uma concepção sobre como se dá a progressão do câncer.
 
"O desafio agora é gerenciar, interpretar e analisar diferentes categorias de dados", explica Houtan Nousmehr, docente do Departamento de Genética que chefia o laboratório. "O que requer dos pesquisadores integrar conhecimentos em biologia, informática e estatística, preparando jovens cientistas para lidar coerentemente com essas quantidades massivas de dados."
 
Rotina clínica
Para o grupo de Ribeirão Preto, o trabalho é a continuação de estudos anteriores, como o que identificou características genômicas de tumores de cérebro. "O objetivo é que nosso índice possa ser um dia utilizado na rotina clínica", explica Tathiane Malta, primeira autora do artigo. "Como a informação adicional do médico poder escolher o tratamento mais adequado para aquele paciente e aquele tumor."
 
De acordo com a visão atualmente aceita na comunidade de pesquisa sobre o câncer, as transformações pelas quais passam as células sadias ao formarem tumores incluem principalmente duas características: a aquisição da capacidade de se multiplicar desordenadamente; e a geração de novas células que se afastam mais e mais de suas características iniciais.
 
Nesse caminho, as células transformadas vão perdendo progressivamente a especialização inicial, própria do tecido onde o tumor está crescendo, e adquirindo características de células-tronco. Ou seja, elas se tornam progressivamente mais indiferenciadas.
 
Normalmente, os tumores apresentam mais de um tipo de células; mas é a subpopulação de células-tronco cancerígenas que “dirige” o crescimento do câncer. O índice desenvolvido pelos pesquisadores fornece uma medida sobre o quanto as células do tumor têm características similares as das células-tronco.
 
Inteligência artificial
Com base nesse entendimento de que há uma similaridade entre parte das células tumorais e células-tronco, os pesquisadores da USP utilizaram um algoritmo para detectar e sistematizar características moleculares de células-tronco sadias e de células diferenciadas derivadas delas.
 
O software analisou milhares de células pluripotentes e em diferentes fases de diferenciação para identificar "assinaturas" moleculares típicas de células-tronco. Com isso, criaram dois índices independentes de "similaridade à célula-tronco" (em inglês, stemness), baseados na expressão de genes e na metilação de DNA, que variam entre zero e um.
 
Se um tumor tem índice mais perto de zero significa que a célula tem poucas características de célula-tronco; se o índice estiver mais perto de um, a célula tem muitas características de célula-tronco. O banco de dados do programa TCGA reúne amostras de tumores primários de 12 mil pessoas, que abrangem 33 diferentes tipos de cânceres.
 
Resultados
O principal resultado do estudo é o próprio desenvolvimento desses índices, que fornecem uma medida sobre o caminho das células tumorais rumo "à indiferenciação", o que, já se sabe, é uma marca de agressividade em muitos tumores. Outro é que os tumores metastáticos apresentam índices altos de similaridade a células-tronco, o que também revela a heterogeneidade das células presentes nos tumores.
 
Além disso, a aplicação do índice permitirá a identificação de novos alvos para drogas anticâncer, capazes de impedir a progressão das células em direção à indiferenciação e à similaridade com células-tronco. “Se pudermos identificar o ponto a partir do qual as células do tumor passam a ter características de células- tronco, poderemos impedir essa trajetória e evitar seu agravamento", completa Houtan. (Com Jornal da USP)

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