26/06/2017 às 11h13min - Atualizada em 26/06/2017 às 11h13min

Card histórico do Bellator supera expectativas

O Bellator 180 foi muito mais que apenas a luta entre Chael Sonnen e Wanderlei Silva

FOX Fight Club
Divulgação/Instagram
Dizem que Scott Coker pensou em tudo mesmo para fazer o melhor evento que Nova Iorque já viu. Convidou a nova-iorquina Alicia Keys para cantar o hino nacional dos EUA, tentou contratar os cineastas de New York Spike Lee e Woody Allen para a edição dos vídeos promocionais, e até mesmo fez o que pôde para botar a pérola negra de Brownsville Mike Tyson para substituir Matt Mitrione, em caso de pedras nos rins.... Até que Tyson x Fedor seria interessante hein... Ah, Jimmy Fallon seria o Mestre de Cerimônias e entrevistador principal.
Essas ideias megalomaníacas falharam. Mas outras vingaram.
Quando idealizou a edição de número 180 do Bellator, Coker foi muito além da ousadia e agressividade que o consagraram no mundo dos negócios. Cria, elabora, surta, se inspira e reúne o que há de melhor no MMA na atualidade. É o que ele deve ter dito aos produtores e ao matchmaker Rich Chou. Sonhem desmedida e ilimitadamente. E assim fantasiaram realizar a luta que o UFC não realizou. Concretizar o duelo que marcou a maior rivalidade do MMA dos últimos anos é de fato audacioso demais. "Oficializem Wanderlei Silva versus Chael Sonnen", ordenou Coker.
Comprar o passe de Fedor Emilianenko, apesar das zilhões de tentativas fracassadas por parte do UFC, e fazer com que o Último Imperador voltasse a se apresentar no ocidente também é ambicioso demais. Mas ter as duas estrelas mais icônicas do Pride, Wandeco e Fedor numa mesma noite, se tornou a obsessão do chefe. Assim, o espetáculo com Super-Lutas estaria "relativamente" garantido.
Mas o entretenimento no projeto do Presidente do Bellator também contemplava a competitividade. "Temos que prestigiar o que há de melhor nos atletas de altíssimo rendimento, temos que ter cinturão em jogo". Que tal então não uma, mas 3 disputas de título mundial? E por favor, incluam a família Gracie e o clã Machida no elenco.
Ninguém acreditava que na pretensiosa noite de 24 de junho um planejamento tão galáctico fosse de fato se materializar. A data chegou e não houve cancelamentos nem lesões. Os ex-tops dos UFC Lorenz Larkin, Matt Mitrione, Ryan Bader e Phil Davis estavam lá motivadíssimos. A joia europeia do Bellator e nova sensação irlandesa James Gallagher, parceiro de treinos de Connor McGregor, também estava lá e foi um show à parte. Falando em joia, a maior preciosidade da organização, Aaron Pico estrearia no MMA justamente neste evento. Mas faltava uma coisa ainda. A locação. Que lugar teria prestígio e glamour suficientes para receber uma superprodução de tamanha magnitude? O Madison Square Garden.
A partir das nove da noite, o Fox Sports transmitiu a inigualável e faraônica noite que revolucionou o conceito de entretenimento marcial. Tudo deu muito certo. Até o que deu muito errado.
Aaron Pico estrear tomando um knockdown e sendo finalizado com uma guilhotina por um completo desconhecido no início do primeiro round foi muito mais notícia que uma vitória absolutamente previsível do favoritíssimo multicampeão de wrestling e boxe.
Fedor perder nocauteado no round inicial também não devia estar nos planos da organização. Mas quando o maior lutador de todos os tempos perde vítima de um "quase" nocaute duplo, numa das situações mais inusitadas já vistas, a repercussão é cem vezes maior que um outro massacre para a coleção do russo peso-pesado. Ponto para o Bellator, e a Arena Redonda mais famosa do mundo ficou ainda mais famosa mundialmente. Com redundância mesmo.
E, como eu disse na transmissão, se encomendassem aos diretores de cinema David Lynch, Tim Burton e Júlio Bressane um roteiro absolutamente surreal, eles não teriam nem de longe escrito histórias tão loucas quanto as que aconteceram na gaiola redonda do Bellator 180. Veja esse capítulo: Michael Chandler é um dos 3 melhores pesos-leves do mundo, independentemente da organização. E é o campeão do Bellator. O desafiante Brent Primus, apesar de invicto, não é um grande lutador. Mas ainda no primeiro round, o dono do cinturão tropeçou enquanto recuava e envergou brutalmente o pé. Em segundos, a lesão piorou tragicamente, e o pé ficou pendurado, às vezes virado para trás. Uma cena impactante. Ainda assim, Chandler sequer demonstrava o menor sinal de dor e, muito menos, a menor intenção de parar. Ao contrário, saltava que nem um saci-pererê certo de que nocautearia Brent Primus, ainda que com uma perna só. A situação era dramática, e o campeão sabia que tinha alguns segundos para vencer, porque a intervenção médica era inevitável. Chandler acertou um direto atômico que quase levou Primus à lona. Mas como o desafiante sobreviveu, o árbitro Todd Anderson interrompeu o combate para uma avaliação dos médicos. Acreditem, o quadro ficou ainda mais feio. Quando foi sentar, o tiozinho da Comissão Atlética de Nova Iorque tirou o banquinho, e o campeão caiu de bunda no chão. E para matar de vez o Chandler, o médico decidiu que ele não tinha condições de se manter de pé e, portanto, continuar lutando. Decisão pertinente e correta. Mas aí é que começou o verdadeiro show de horror para mim. Ninguém retirou o agora ex-campeão para ser hospitalizado. Nada, nem maca, nem imobilização do tornozelo, nem mesmo uma cadeira de roda. Nem mesmo gelo!! E mantiveram Michael Chandler de pé enquanto faziam o anúncio do vencedor e colocavam o cinturão no oponente. E vieram as entrevistas pós-luta! E o Chandler ainda de pé, quer dizer, num pé só! É incoerência demais não permitir que o lutador profissional fique de pé para proteger o seu título mundial ao vivo no Madison Square Garden, mas deixar que ele fique de pé vendo sua coroa mudar de dono e ainda dar entrevistas!! No mínimo uma contradição em si, no mínimo uma irresponsabilidade, no mínimo uma lambança. Alô Comissão Atlética de New York: Ou é uma emergência ou não é. Enfim, foi uma fatalidade, Michael Chandler perdeu para o imponderável e não para Brent Primus, e vai ter a revanche dele. E com toda essa constrangedora situação, a Arena Redonda mais famosa do mundo ficou ainda mais mundialmente famosa. De novo, com redundância proposital.
Quanto aos brasileiros, Douglas Lima não vai mais ser um Campeão Mundial subestimado e desconhecido depois de bater Lorenz Larkin na especialidade do desafiante, e se consagrar como um dos maiores strikers da atualidade. Se obtiver sucesso defendendo a cinta contra Rory MacDonald, se torna um imortal.
E Wanderlei Silva tem que treinar exaustivamente o sprawl, se quer de fato uma revanche com Chael Sonnen. Com exclusividade ao Fox Sports, Scott Coker garantiu que levar o Bellator ao Brasil em 2018 é uma das prioridades. E, depois da noite de ontem, não restam dúvidas que o que ele se propõe a fazer, ele faz. Portanto Wandeco, exercite as defesas de queda. A trocação já é inerente ao seu jogo. Trabalhe o sprawl para que, no ano vem, você vá a forra e Wandalize o Sonnen em território verde-amarelo.

 
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