22/04/2024 às 10h20min - Atualizada em 22/04/2024 às 10h20min

​Aluno é espancado por colegas em escola onde adolescente foi agredido pelas costas e morreu: 'revolta', diz mãe

Mulher afirma que o filho, de 14 anos, foi espancado com tapas e pontapés por sete estudantes em banheiro e em 'sala de cinema' de uma escola estadual em Praia Grande (SP). No mesmo local, Carlos Teixeira foi agredido por colegas e morreu após sofrer três paradas cardiorrespiratórias.

Por g1 Santos
A mãe de um adolescente de 14 anos alega que o filho foi espancado por sete colegas na mesma escola onde Carlos Teixeira, o menino que morreu após dois estudantes pularem sobre as costas dele, foi agredido. Ao g1, a mulher contou, nesta segunda-feira (22), que os 'ataques' acontecem com frequência em um banheiro da unidade estadual em Praia Grande, no litoral de São Paulo.
Carlos Teixeira morreu após sofrer três paradas cardiorrespiratórias, na última terça-feira (16), quando estava internado na Santa Casa de Santos (SP) . O jovem precisou de atendimento médico após dois meninos pularem nas costas dele na Escola Estadual Júlio Pardo Couto, em Praia Grande (SP), no dia 9 de abril.
Ao g1, Tatiane Boeno, mãe do estudante de 14 anos, afirmou que o filho foi espancado, com tapas e pontapés, duas vezes em um único dia dentro da mesma escola onde estava Carlos. As agressões, segundo ela, aconteceram em um dos banheiros e em uma 'sala de cinema' da escola.
O menino ficou com hematomas e arranhões pelo corpo, ainda de acordo ela, por conta dos episódios.
"O sentimento é de revolta e medo", desabafou Tatiane. "Esse banheiro é perigosíssimo. Todas as brigas são resolvidas lá, pois não tem câmera. Eles [os agressores] esperam o aluno que querem fazer bullying entrar e, então, atacam em bando. São sempre os mesmos".
Tatiane descobriu sobre as agressões no mesmo dia dos fatos, após o filho tentar sair escondido da escola. "Ficou com medo porque o ameaçaram de represália na saída", lembrou. "Mas foi 'pego' e levado para a diretoria", contou ela.
Segundo ela, o menino relatou em particular ter sido espancado na escola. Tatiane disse ter acionado a diretoria, que afirmou não ter registrado agressões ao adolescente naquele dia.
Por fim, ela contou ter 'resolvido' o problema comparecendo à escola na hora da saída e conversando diretamente com os agressores do filho. "Pediram desculpas e disseram que não fariam mais isso. Desde então, converso todos os dias com ele para ver se o agrediram novamente".
Secretaria de Educação de SP
Em nota, a Seduc-SP afirmou que repudia todo e qualquer ato de violência e descriminação, dentro ou fora da escola. A pasta acrescentou que também não houve registro de reclamação por parte de responsáveis pelo estudante no mesmo período.
"Reforçamos que sempre que um caso de violência ou bullying é identificado nas unidades de ensino da rede estadual, a equipe gestora aciona os responsáveis e a rede protetiva que inclui Ronda Escolar e Conselho Tutelar, quando necessário, além do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva-SP)", complementou a Seduc-SP.
Carlos Teixeira
O adolescente morreu na terça-feira (16), na Santa Casa de Santos. O pai dele, Julisses Fleming, afirmou que o filho era saudável e acredita que a morte aconteceu em decorrência da agressão sofrida. Segundo apurado pelo g1, o caso foi registrado na Polícia Civil e a causa da morte ainda está sendo investigada.
Julisses afirmou que os médicos disseram que a suspeita era de que a causa da morte seria uma infecção no pulmão. Em nota, a Santa Casa de Santos confirmou a transferência da UPA Central, mas disse não ter autorização para dar mais informações sobre o caso.
g1 teve acesso à declaração de óbito de Carlos Teixeira, que apontou a causa da morte. A equipe de reportagem apurou também que o documento servirá como 'base' para o atestado de óbito - que pode apontar a morte em decorrência de agressões - e que leva de 30 a 90 dias para ficar pronto (confira, mais adiante, a explicação de um médico sobre broncopneumonia bilateral).
O estudante sofria bullying com frequência e já tinha sido agredido em outras oportunidades. Um vídeo obtido pela equipe de reportagem mostra um dos episódios em que o garoto foi vítima dentro da unidade escolar.
Últimas palavras
As últimas palavras de Carlos Teixeira foram sobre o medo que ele tinha de morrer. Julisses contou à equipe de reportagem que, no hospital, mesmo com fortes dores nas costas e dificuldades para respirar, o menino agradecia aos médicos e a Deus.
Minutos antes de Carlos morrer, no entanto, o homem contou ao g1 que precisou acalmá-lo. O adolescente passou a dizer repetidamente que tinha medo de partir. "Me sinto acabado e destruído", afirmou o pai.
Médicos
Ao g1, o médico clínico Carlos Machado explicou o que é uma broncopneumonia bilateral. Segundo ele, trata-se de uma infecção 'mais ampla' do que uma pneumonia, que normalmente é causada por vírus e pode se agravar por uma bactéria nos dois pulmões.
Antes da declaração de óbito, a pedido do g1, Carlos Machado e o também médico clínico Marcelo Bechara analisaram o caso com base nas próprias experiências profissionais e nas informações passadas pela equipe de reportagem.
Ambos afirmaram que o excesso de peso nas costas pode ter levado a um trauma -- lesões causadas por um evento traumático externo ao corpo e que acontece de forma inesperada.
De acordo com Carlos Machado, o trauma pode ter sido uma fratura ou esmagamento da vértebra na coluna cervical, torácica e até na costela.
"Se ele estiver com uma dessas lesões, [...] podia estar furando o pulmão, o que dificulta a respiração e, respirando menos, faz com que tenha secreção acumulada, que é uma infecção pulmonar", afirmou o profissional.
Marcelo Bechara acrescentou que, pelo mesmo motivo, ocorre uma parada cardiorrespiratória. "O excesso de peso nas costas podem ter levado a um trauma que pode levar a um pneumotórax [...], [quando] o pulmão não consegue ventilar e uma hora chega a parada cardíaca mesmo", disse ele.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) afirmou que o caso foi registrado como morte suspeita e é investigado pelo 1º Distrito Policial (DP) de Praia Grande. Conforme apurado pelo g1, o corpo de Carlos passará por necropsia -- procedimento médico que examina a causa da morte.
Seduc-SP, sobre Carlos Teixeira
A Secretaria de Educação do Governo de São Paulo informou que o vídeo da agressão foi gravado no dia 19 de março. "A Pasta repudia toda e qualquer forma de agressão e de incitação à violência dentro ou fora das escolas. Na época, ao tomar ciência do caso apresentado, a gestão escolar acionou Conselho Tutelar e os responsáveis do aluno. Também registrou o ocorrido no aplicativo do Conviva".
A Seduc ainda afirmou que lamenta profundamente o falecimento do estudante. "A Diretoria de Ensino de São Vicente instaurou uma apuração preliminar interna do caso e colabora com as autoridades nas investigações".
A Prefeitura de Praia Grande disse que lamenta profundamente a ocorrência com um aluno da Escola Estadual Júlio Pardo Couto, no Bairro Nova Mirim. A Administração municipal se solidariza com os familiares e amigos do jovem.
A Prefeitura solicitou junto a secretaria de Estado uma apuração completa dos fatos, já que a unidade de ensino é estadual. A administração municipal explicou ainda que também já está analisando todos os procedimentos adotados no atendimento efetuado no pronto-socorro da Cidade.
 
 

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