21/03/2024 às 10h33min - Atualizada em 21/03/2024 às 10h33min

​'Não sou comentarista político', diz Ratinho Junior sobre recebimento de propina de Ademar Traiano, presidente da Assembleia

Governador também comanda o diretório estadual do PSD, o mesmo de Traiano. Áudios e depoimentos que mostram a negociação de propina foram revelados pelo g1 e a RPC.

Por g1 PR, Narley Resende e Douglas Maia, RPC Curitiba
O governador do Paraná, Ratinho Junior, e o presidente da Alep, Ademar Traiano — Foto: Jonathan Campos/AEN
O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), foi questionado sobre os depoimentos e áudios que mostram o recebimento de propina pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Ademar Traiano (PSD).
Perguntado pela RPC durante um evento nesta quarta-feira (20) em Curitiba, o governador disse:
"Não sou comentarista político", afirmou na saída do evento.
Ratinho Junior também é presidente estadual do Partido Social Democrático (PSD), o mesmo de Traiano.
Os depoimentos e áudios, revelados pela RPC e o g1 com exclusividade, mostram conversas entre o empresário Vicente Malucelli e Traiano para o recebimento de R$ 100 mil em propina do parlamentar. As gravações foram feitas por Malucelli em 2015.
De acordo com a investigação do Ministério Público do Paraná (MP-PR), o ex-deputado Plauto Miró também recebeu R$ 100 mil do empresário.
Na época, Vicente Malucelli era diretora da TV Icaraí, então prestadora de serviço da TV Assembleia
Entenda:
Tanto Traiano quanto Miró confessaram que receberam propina. As confissões estão em Acordos de Não Persecução Penal (ANPP) e Acordos de Não Persecução Cível (ANPC) firmados por eles com o MP.
Como fecharam os acordos, Traiano e Miró não foram processados. Veja abaixo a linha do tempo da investigação.
Novembro de 2012
A TV Icaraí, do Grupo Malucelli, vence a licitação para produzir conteúdo para a Assembleia Legislativa. O contrato é de três anos.
Fevereiro de 2015
Ademar Traiano, então no PSDB, é eleito presidente da Assembleia.
Agosto de 2015
De acordo com as investigações, Ademar Traiano e o então deputado estadual Plauto Miró pedem R$ 300 mil a Vicente Malucelli, diretor da emissora.
Setembro de 2015
De acordo com o Ministério Público, o valor da propina baixou para R$ 200 mil, R$ 100 mil para cada deputado. Os promotores apontam que Vicente Malucelli providenciou os pagamentos.
Conforme o MP, Ademar Traiano recebeu, em setembro de 2015, a primeira parte do pagamento, R$ 50 mil em dinheiro dentro da Assembleia, no gabinete da presidência.
Segundo as investigações, o político passou a pressionar Vicente Malucelli. Plauto Miró, como aponta o MP, recebeu a parte dele em dinheiro na sede do Grupo Malucelli.
Outubro e novembro de 2015
O Ministério Público rastreou o caminho dos três cheques do pagamento a Traiano. Na época, a promotoria descobriu que dois deles foram parar nas mãos de um mecânico de Francisco Beltrão, reduto eleitoral do presidente da Assembleia.
O outro cheque, segundo as investigações, foi depositado na conta de uma empresa de transportes de Curitiba, mas ela e o mecânico não são investigados no caso.
Maio de 2020
O Ministério Público começa as investigações suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo Traiano e Miró.
Dezembro de 2022
Ademar Traiano e Plauto Miró assinam acordo de não persecução penal, confessam os crimes, devolvem dinheiro, pagam multa que somadas passaram de R$ 740 mil e não são processados. Outubro de 2023
Quase um ano depois, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) homologa o acordo entre os políticos e o MP.
Dezembro de 2023
Em dezembro do mesmo ano, o os acordos são homologados. Segundo o Ministério Público, após essa fase, os termos dos acordos devem se tornar públicos, o que não aconteceu.
O que dizem os citados
Ademar Traiano e Plauto Miró disseram, em notas idênticas, que "reafirmam que formalizaram o acordo com o Ministério Público e que esse acordo foi homologado pelo Judiciário, e, por eles, cumprido plenamente".
A defesa de Vicente Malucelli não respondeu o contato feito pela RPC.
 

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