18/05/2022 às 11h06min - Atualizada em 18/05/2022 às 11h06min

​Pegar Covid duas ou mais vezes ao ano pode ser comum com a ômicron, indica estudo

Ômicron evoluiu para se tornar mais transmissível e suas subvariantes são hábeis em achar brechas na imunidade adquirida por infecções anteriores; vacinação com reforço e máscaras ainda são as melhores defesas.

Por Lara Pinheiro, g1
Ter Covid uma, duas ou até três vezes ao ano pode ser uma realidade concreta para pessoas que seguirem expostas sem barreiras à variante ômicron e suas subvariantes. O cenário é traçado por especialistas que conduziram um estudo na África do Sul e confirmado também pela experiência prática de médicos brasileiros ouvidos pelo g1.
Na África do Sul, pesquisadores da Universidade Stellenbosch analisaram quase 3 milhões de testes positivos de laboratório registrados até janeiro deste ano. Em artigo publicado na revista científica "Science", eles apontam que reinfecções eram eventos raros, quase nulos, nas ondas provocadas pelas variantes beta e delta. Entretanto, depois de 31 de outubro de 2021, com o aparecimento da ômicron, a pesquisa localizou indivíduos que tiveram até três casos de reinfecção.
"A culpada foi a variante Ômicron que surgiu rapidamente, com múltiplas mutações na proteína spike. A principal vantagem dessa variante é sua capacidade de evitar a imunidade adquirida naturalmente (por infecção anterior)", apontam os pesquisadores.
Nas ondas pré-ômicron da pandemia, casos de reinfecção eram raros e investigados: estudo na "The Lancet" associava as ocorrências pontuais à queda da imunidade após seis meses da imunidade adquirida. No recente estudo africano, as reinfecções foram verificadas em intervalos menores: 90 dias (três meses).

Total de infecções possíveis

Os dados da África encontram respaldo na experiência de médicos brasileiros que também se deparam com casos seguidos de reinfecção desde a chegada da variante.
"O número de vezes que uma pessoa pode ter Covid a gente ainda não sabe – provavelmente, infinitas vezes. Já tem pessoas com três, quatro infecções relatadas. Ou seja, não há imunidade duradoura na Covid – assim como para outras doenças respiratórias, como rinovírus", explica Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Alguns motivos tornam possível ter Covid várias vezes:
  1. As vacinas que temos hoje nos protegem contra casos graves da Covid, mas não contra a infecção pelo coronavírus. Além das máscaras, uma possibilidade de defesa seriam as vacinas nasais, que ainda estão sendo testadas;
  2. variante ômicron, que é a dominante no Brasil, tem capacidade de escapar, em parte, à proteção que é concedida pelas vacinas.
  3. Algumas subvariantes da ômicron, mais contagiosas, também passaram a circular, facilitando as reinfecções.
  4. Mas nem tudo está perdido: se, de um lado, os casos de Covid mostram sinais de aumento, a tendência é de que não tenhamos uma onda de mortes e hospitalizações como as vistas nos últimos dois anos.
  5. Um outro ponto é que as máscaras continuam sendo as principais aliadas para quem busca proteção contra a infecção no atual momento.

6.1) Proteção contra caso grave x infecção

  1. Um fator já conhecido é que as vacinas que temos hoje protegem contra casos graves da Covid, mas não contra a infecção. Um dos motivos para isso é que a infecção pelo coronavírus ocorre principalmente pela mucosa nasal. E as vacinas são dadas no braço, de forma intramuscular.
  2. Uma forma de evitar a infecção seria, portanto, impedir que o vírus se multiplique exatamente em seu ponto de entrada no corpo: no nariz.
  3. Assim, no mundo ideal, uma vacina nasal poderia ajudar o corpo a "produzir anticorpos que capturam o vírus antes mesmo que ele tenha a chance de se ligar às células", explicou, em um artigo publicado nesta semana no jornal "The New York Times", a pesquisadora Akiko Iwasaki, da universidade americana de Yale. Ela está trabalhando em uma dessas vacinas – que seriam capazes de promover a chamada "imunidade esterilizante".
  4. Um outro detalhe é que as vacinas de hoje provocam pouca produção de um anticorpo chamado IgA – no que as vacinas nasais poderiam ajudar, esclarece o médico Salmo Raskin, geneticista e pediatra diretor do Laboratório Genetika, em Curitiba.
  5. "Ela [a vacina nasal] tem o potencial de, na mucosa da célula nasal, provocar a produção do anticorpo IgA. Como é pelo nariz que o coronavírus entra no nosso corpo, a gente pode estar falando pela primeira vez de uma barreira contra infecção", afirma.
  6. Mas Raskin não faz previsões de quando as primeiras vacinas desse tipo podem estar disponíveis – todas ainda estão em testes. Além disso, avalia o médico, diferente do que houve na primeira "corrida das vacinas" – com centenas de pesquisas ocorrendo ao redor do mundo ao mesmo tempo –, por enquanto parece haver pouco interesse em desenvolver uma versão nasal.
  7. Para o geneticista, não devemos, tampouco, "colocar todos os ovos" na cesta das vacinas nasais. Ele defende que é preciso pensar, também, nas vacinas tradicionais de segunda geração, que devem ser melhor adaptadas para conter as novas versões do coronavírus.
  8. "Todo mundo tem que tomar três doses, muitos têm que tomar quatro doses, isso é óbvio. Mas, além disso, e agora? E os próximos 12 meses? Não vai tomar quinta dose, sexta dose, sétima dose. Não vai acontecer. Na minha opinião, nós tivemos o desenvolvimento absolutamente espetacular da primeira geração de vacinas, salvou a vida de milhões de pessoas, mas a segunda geração está demorando", avalia Raskin.
 

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