10/04/2022 às 10h45min - Atualizada em 10/04/2022 às 10h45min

O dia que o presidente veio aqui, mas não foi lá

- Gil Gimenes

Desde a última quarta-feira (6), quando a foto de um empresário bandeirantense acompanhado de dois padres tambem da cidade, juntos com o presidente Jair Bolsonaro passou a circular nas redes sociais, essas passaram a fervilhar com a visita aunciada do mesmo à cidade de Bandeirantes, no Norte Pioneiro.

No decorrer da semana conforme detalhes do evento eram divulgados, um clima de ansiedade ia tomando conta da população das cidades que ficam no entorno do Santuário de São Miguel Arcanjo, local escolhido para a visita do presidente.

Na manhã de quinta-feira (7) o que se sabia da visita do presidente, era que o mesmo iria para a ExpoLondrina na sexta-feira, e na manhã de sábado ele iria para Andirá, município vizinho a Bandeirantes, de lá ele se juntaria a apoiadores e fariam uma “motociata” até o santuário.

Ainda durante a quinta-feira, o helicóptero oficial da presidencia pousou em Andirá, e na oportunidade dois oficiais da Aeronáutica vistoriaram o local, o que reorçou a ideia de que o Presidente da República realmente viria.

No final da tarde de sexta-feira (08) o avião oficial da presidencia pousou no aeroporto de Londrina, ele desceu e foi ovacionado pela população que ali estava. A visita a Londrina, era para que Jair fosse a Expolondrina. O deputado Federal Pedro Lupion, politico ligado ao agronegócio foi o responsável por estender a agenda do presidente até o evento. Bolsonaro foi a estrela da noite, inclusive ele montou um animal enquanto se exibia na arena de rodeio. Foi ovacionado novamente pela população e consolidou o apoio que o agronegocio deposita sobre ele.

Voltando a visita à Bandeirantes, a coisa não estava tão amena quando parecia. Devido a presença dos padres fazendo o convite ao presidente para virem ao Santuário, a Diocese de Jacaezinho emitiu uma nota onde dizia que a mesma não está envolvida com o evento.

O deputado Diego Garcia tambem aproveitou e surfou na onda da visita do presidente. Garcia é ligado a movimentos da igreja católica e nada mais natural que agisse dessa maneira. Inclusive o mesmo durante a visita de Bolsonaro a Londrina, gravou um video dizendo que na manhã do dia seguinte (sábado, 09), o presidente estaria em Andirá, na motociata e que todos deveriam apoia-lo. Bem assim foi feito, pelo menos a parte que cabia à poupulação.

Sábado, 09 de abril, já passava das 07 da manhã e muita gente já se reunia nas dependencia do Estadio Municipal João Hermogenes de Andrade, carinhosamente chamado de Andradão. Ali era o local combinado para que as 08h da manhã o helicóptero de Jair Bolsonaro pousasse. A pouco mais de quatro quilometros dali os motociclista que se inscreveram para participar da motociata se agrupavam na frente de uma empresa de móveis. Juntos a eles agricultores posicionavam máquinas e tratores. O apoio à Bolsonaro era incondicional. A ansiedade por encontra-lo era visivel nos rostos de homens, mulheres e crianças, presente tanto concentrção das motos, quanto no campo onde o helicóptero pousaria. Os funcionários da prefeitura trabaharam até tarde da noite, para que a cidade estivesse ainda mais bonita para receber o chefe da nação. Mas, isso não foi levado em consideração pela comitiva, que devido a um “compromisso” que atrasou em Londrina a agenda foi alterada. (Expeculações indicam que o compromisso era um café da manhã com alguns escolhidos).

A hora passava, olhos para o céu e nenhum sinal do avião do presidente. “A agenda dele é apertada”, “ tá um pouquinho atrasado, mas vem!” a hora ia passando a apreensão aumentava. Não teria o porque ser diferente. A vistoria da aeronáutica havia sido feita dando o aval para o pouso. A administração da cidade Andirá cuidou meticulosamente todos os detalhes. Somado isso o deputado federal Diego Garcia já tinha dado a confrmação de que a ilustre presença de Bolsonaro iria acontecer.

Após o mal estar gerado pela não ida do presidente até Andirá, a prefeita Ione Abib postou em suas redes um pedido de desculpas aos andiraenses que aguardavam Bolsonaro. Mesmo não sendo sua culpa, Ione também se sentiu frustada ao ver a sua cidade sendo desprezada pela agenda do presidente e deputados. 

Pouco mais das 09 da manhã, enquanto os apoiadores do presidente se agrupavam na cidade vizinha, Andirá, na expectativa de terem Bolsonaro na motociata, quem já estava la no Santuário de São Miguel Arcanjo ouviu o som das hélices do imponente helicóptero da Força Aerea Brasileira, vindo de Londrina.

Enquanto a aeronave sobrevoava o santuario, em Andirá muita gente ficou magoada com o fato de que o presidente não iria cumprir o então combinado. Mas e se ele ainda vir pra ca? Essa duvida se extinguiu assim que o helicótero pousou no estacionamento do santuário.

A motociata ocorreu, sem o presidente. O apoio a ele continua inabalado, apesar de alguns andiraenses se mostrarem decepcionados com o “Mito” já o apoio ao deputado Diego Garcia, bem a relação ficou estremecida.

O que ocorreu para o presidente não participar do passeio de motocicleta, até o presente momento ninguém sabe dizer. Mas o fato é que toda essa movimentação de grupos de apoiadores para organizar a motociata se deu em partes pela declarações afirmativas de Diego Garcia. Ele garantiu que Bolsonaro ia, não foi.

No santuário o que se viu foi um fanatismo político que, ao ver de muitos, não cabe em um local de oração. Enquanto aguarda o Bolsonoro, orações eram entoadas por padres, que em nenhum momento transitaram entre os populares para saber como estavam os “fiéis”.

Pessoas se apertavam nas grades, gritando palavras de “ordem”, o presidente saiu do helicóptero, cumprimentou meia dúzia de gatos pingados, sempre ladeado de deputados que, em outros eventos pulam no colo da imprensa, e misteriosamente no santuário ignoraram a presença dos mesmos.

Ao final da missa, onde o presidente fez uma leitura (já que foi proibido de fazer campanha) e viu sua comitiva receber uma imagem de São Miguel Arcanjo, ele, segundo o padre reitor do local, havia recebido a imagem antes (só não é possível saber quando, já que não há nenhum registro sobre isso) e por essa razão não foi presenteado dentro do santuário (todos sabem que o presidente se diz evangélico. Seria esse o motivo de não ter recebido a imagem após a missa?).

Ele se foi, deixou na cidade de Bandeirantes, entre os seus eleitores um clima de “meu presidente veio na minha cidade”, entre os não apoiadores um misto de vergonha alheia e decepção com a comunidade católica. Vida que segue. Tomara que agora, que ele descobriu que Bandeirantes existe, que andou junto com o governador Ratinho Júnior traga verbas federais para o município que anda carente de tanta coisa, inclusive de presidente. O choro é livre, o riso também.

 


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