30/06/2021 às 10h07min - Atualizada em 30/06/2021 às 10h07min

"A história por trás da história” do frei Belino Maria Treviso

Isaele Cristini
Frei Belino Maria Treviso -Arquivo Museu Histórico de Siqueira Campos
Nesta semana o Expresso Paraná decidiu publicar a "história por trás da história" do frei Belino Maria Treviso, uma pesquisa aprofundada feita pela nossa Redação. O vigário foi o que ficou mais tempo à frente da paróquia, de 1926 a 1952, atuando 26 anos em Siqueira Campos em prol dos fiéis, contribuindo com a economia, política e religião local. 

Infelizmente atualmente a placa do busto dedicado ao frei que fica na Praça Brasil onde também está localizada a Igreja Matriz, altera a data de permanência do frei na cidade, esses dados contradizem a nossa pesquisa realizada no Museu Municipal junto aos arquivos mais importantes do frei.

Nós entramos em contato com Diretor de Cultura de Siqueira Campos, Flávio Mello, para saber se foi erro nos documentos ou na composição da placa, o fato é que a discrepância pode gerar conflitos relacionados à vida e história do frei, principalmente gerar uma ilusão aos fiéis que visitaram e voltarão a visitar o município principalmente durante a festa do Senhor Bom Jesus da Cana Verde realizada durante o mês de agosto. A boa notícia é que o possível equívoco seja corrigido pela atual gestão do Departamento. 

"Tomei ciência do equívoco por vocês do jornal, em minha primeira participação no jornal - impresso e na rádio, até aquele momento tudo era muito incerto e eu ainda aprendia muito sobre o que era o "Departamento de Cultura", como tudo ainda depende tão e somente de verbas e etc, o "caso do busto" está na minha fila (desde então), para verificação e troca, se for o caso, isso não está fora de cogitação". Explicou Flávio. 

O Expresso Paraná novamente foi ao local onde está localizado o busto e confirmou a informação, o Departamento também conferiu que de fato a placa está incorreta. Na placa consta a permanência de 1926 – 1953, bem como o nome do frei está alterado “Bellino Maria de Treviso”, (em negrito a alteração). 
Tendo em mãos a liberdade de influenciar a política e economia no município, grande parte do desenvolvimento da cidade durante 26 anos se deve à atuação do vigário, ou seja, a cultura do povo em si, o modo de comportamento e vivência.

 Afinal 26 anos de história são suficientes para gerar opinião e direcionar os caminhos de um povo. Até o Faraó Tutancâmon que governou apenas 09 anos moveu a história do Egito , reverteu várias mudanças feitas durante o reinado de seu pai, imagine 26 anos. É justamente por isso que o frei Belino é uma das RELÍQUIAS DO PARANÁ escolhida para esta edição.  

A última exposição voltada à memória do frei em Siqueira Campos aconteceu no dia 06 de abril de 2017 no museu da cidade, onde com muita atenção e dedicação deixaram à disposição objetos, vestimentas, fotos, entre outros.
Apesar do amplo conteúdo disponível no museu, frei Belino é pouco citado em livros da história da cidade de Siqueira Campos, mesmo tendo assumido a paróquia local por tanto tempo e contribuído em todos os aspectos, desta forma visamos trazer à luz a importância deste frei tão rígido e ao mesmo tempo cuidadoso, nós repassaremos aos leitores um pouco de sua história que está disponível também no Museu Histórico de Siqueira Campos. 

 Frei Belino Maria Treviso nasceu em Santa Bona (Itália), diocese de Treviso, aos 23 de dezembro de 1885. Concluído o ginásio no seminário de Verona, aos 25 de maio de 1901 entrou no noviciado de Bassano, tendo como mestre Frei Alberto de Conegliano. Após sua primeira profissão religiosa (26.05.1902) na casa de noviciado, emitiu a perpetua (06.09.1905) em Veneza, sendo ministro provincial Frei Serafim de údine. Cursou filosofia e teologia em Pádua e Veneza. No dia 8 de novembro de 1908 foi ordenado sacerdote pelo Cardeal Patriarca Aristides Cavallari.

De outubro de 1912 a junho de 1914 foi professor no seminário de Verona. Sua índole vivaz e entusiasta lançou o à conquista do Reino em terra dálmata. Com a Guerra de 1914 -1918 foi enviado pelos austríacos ao convento de Leibnitz (Áustria). No meio de sofrimentos e renúncias amadureceu seu ideal missionário.
Despediu-se de sua terra natal aos 16 de novembro de 1922 e, com Frei Leonardo de Fellette veio ao Brasil. Chegaram ao Paraná aos 5 de dezembro de 1922. Inicialmente trabalhou em Jacarezinho (1923-1926) como vigário paroquial. 
Em seguida, foi nomeado pároco de Siqueira Campos onde permaneceu de 8 de março de 1926 até 29 de fevereiro de 1952. Tornou-se um apóstolo de Siqueira Campos durante 26 anos. Exerceu o cargo de superior local e pároco em Ponta Grossa, na igreja Imaculada Conceição (1953-1954) e em Guaratuba (1955-1960).

Desde 1925 até 1941 e de 1951 a 1954, além dos trabalhos paroquiais, desempenhou o encargo de 1° e 2° conselheiro da Missão e da Custódia. Em quase todos os lugares onde viveu, sempre foi superior local. Cultivou povo siqueirense no amor, com a paixão de um santo. Era tido em alta consideração pelas autoridades civis. Defendia sua gente das intrigas de todo tipo, pois vivia totalmente pelo seu povo e a todos dava acertados conselhos.

Além do ministério pastoral, foi um colaborador sincero,  conselheiro bem iluminado no governo da Custódia. Amava os confrades e sempre tinha uma palavra de encorajamento para os estudantes. 
" Meus pais contaram que certa vez estavam na missa e tinha uma moça que foi com um vestido sem manga, depois da missa o frei chamou de canto e conversou com ela. Dizem que ele aconselhou a moça a ir para missa com vestimentas mais adequadas. Eu era criança na época, mas me recordo dos meus pais falando". Relatou uma das nossas fontes.

Em outra ocasião o frei salvou um casamento, como era de costume na época a religião prezava muito pelo matrimônio, e dando conselhos explicando sobre a vida o frei conseguia a ajudar manter as famílias unidas. 
Por tradição e pelos costumes, o jubileu de prata é a comemoração que se faz pela passagem de 25 anos de uma ordenação sacerdotal, consagração religiosa. O Jubileu de Prata de frei Belino aconteceu no dia 27 de maio de 1951, um ano antes de sair da paróquia de Siqueira Campos.

Uma longa enfermidade cardíaca o levou à morte no hospital da Santa Casa de Misericórdia em Curitiba, a 1 de dezembro de 1960. Foi sepultado no cemitério de Siqueira Campos e ainda hoje é lembrado com muita gratidão por aquele povo. Uma capela feita em homenagem ao frei no cemitério é visitada com frequência pelos fiéis. 

E então algumas pessoas perguntam a esta jornalista o que a motivou ficar 11 anos analisando a história do frei (ainda com muitas, muitas  informações pendentes), pois eu digo que em uma tarde de agosto de 2009 eu estava checando datas nas lápides de alguns túmulos para obter informações precisas sobre em que momento da história o cemitério da Colônia Mineira que ficava nas proximidades do Santuário (de acordo com populares), passou a ser naquela região (Essa já é outra história, que há pouca informação e precisa de mais pesquisa). Lá pelas tantas, cansada já, percebi uma capela diferenciada e bem adornada. Ali sentei, fui ver de quem era a capela e .....era a capela do frei Belino. A curiosidade despertada não só na mente, mas também nas emoções me disse: Quem foi este frei? E então vocês já sabem.

Imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde

Outro assunto que pouco se comenta é sobre a influência do frei acerca da imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde, o qual lutou bravamente para que permanecesse em Siqueira Campos. 
A verdadeira história da origem da imagem do Bom Jesus esculpida em madeira de cedro, ninguém sabe ao certo. Muitas lendas existem referentes ao seu aparecimento, algumas fundamentadas em investigações históricas. Umas atribuem a sua origem aos trabalhos de um escravo que tendo desobedecido o seu senhor, fugiu para o mato com receio do castigo e em troca do perdão do seu senhor esculpiu em madeira de cedro vermelha uma imagem do Bom Jesus. 

Outras atribuem aos trabalhos do próprio Aleijadinho (Antonio Francisco Lisboa) ou então de algum discípulo seu. Foi feito em 1967 o primeiro filme em longa metragem todo colorido do Estado do Paraná, por artistas amadores de Siqueira Campos, baseado em uma das tantas lendas sobre o aparecimento do Santo. 
A imagem do Santo, segundo pesquisadores, oriunda de Minas Gerais e depois do Estado de São Paulo, chegou no Estado do Paraná mais ou menos entre 1870 a 1880, ficando a mesma no Bairro dos Muzilos, município de Carlópolis, na Fazenda do Capitão Francisco de Oliveira Pinto, que em 1902 legalizou a doação de 35 (trinta e cinco) alqueires de terras para o Santo, dentro de sua propriedade. Vale ressaltar que nesta última pesquisa há um agravante que dá credibilidade à história,  já que o Cedro é uma madeira nativa da Mata Atlântica, tem um rápido crescimento e pode alcançar até 30 metros de altura, porém é encontrada no Rio Grande do Sul e Minas Gerais, Aleijadinho era mineiro, não é!

Ninguém fala, eu falo!

Eu (Isa) fiz uma pesquisa em campo e colhi algumas informações de idosos que na época do frei Belino eram crianças ou que ouviram histórias passadas de geração a geração, de que apesar de toda explicação disponível em documentos, há algo ainda não documentado: O conflito.
 Lá pelas tantas, os fazendeiros donos da imagem, teriam percebido que o santo "fazia milagre" e a notícia correu, então pessoas das redondezas começaram a visitar a imagem e deixar ofertas generosas. A imagem tornou-se rentável e assim começa um conflito entre os municípios de Siqueira Campos e Carlópolis, um queria a imagem lá e outro cá. 
Comandada pelo frei, uma expedição saiu de Siqueira Campos para conflitar em Carlópolis, houve luta armada. O frei teria aplicado sua influência para que a imagem viesse para o município. Há ainda outros relatos que ainda não publicarei, pois, preciso de mais fontes. 

A história documentada diz...

Em 1905, após o falecimento do Capitão Francisco de Oliveira Pinto e o julgamento do inventário, a Mitra Diocesana de Jacarezinho tomou posse das terras doadas. Por um Decreto do Bispo de Jacarezinho, Dom Fernando Taddei, assinado em 01 de março de 1934, Siqueira Campos recebeu a imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde. 
Os motivos desse Decreto foram entre outros: a localização geográfica do município, a situação física da Igreja Matriz que se encontrava mais ampla pela reforma, a presença permanente de um vigário para atender bem os romeiros e por ser também a comunidade mais religiosa pertencente a Diocese.
A verdade

A verdade é que fica difícil concluir a história da imagem, mas a história do frei posso tomar como verdade. 
O Santuário
Construído na década de 70 o Santuário recebe turistas de todo Brasil. O fluxo de turistas é altamente forte nos meses de julho e agosto quando se realiza a Festa Religiosa em homenagem ao Senhor Bom Jesus da Cana Verde.

Desde 1934 o município realiza anualmente a festa escolhendo a data de 06 de agosto como o dia oficial do santo. Com a propagação dos possíveis milagres e graças alcançadas pelos fervorosos fiéis do Bom Jesus, os turistas em forma de pequenas romarias começaram a marcar presença anualmente no período da festa, fator este que levou a Igreja a construir um santuário próprio para veneração do santo, na parte alta da cidade ocupando uma área de 28 mil metros quadrados. O qual foi inaugurado em 1975.
 
Colégio Sagrada Família foi aberto a pedido de Frei Belino 

(Referência – Colégio Estadual Sagrada Família/ Projeto Político Pedagógico)
No dia 27 de julho de 1935 a pedido do frei Belino Maria Treviso vigário da Paróquia Divino Espírito Santo foi aberto o Colégio Sagrada Família (Colégio das irmãs), A Madre Bronislava Burgala enviou então, três Irmãs: Irmã Eva Vitória Nalepa, Irmã Clotilde Rozycki e Irmã Inês Dolniak e uma Postulante, Catarina Karczynski, com as finalidades: a catequese, o ensino primário, a direção da Pia União das Filhas de Maria e o zelo da igreja Matriz.
 O prédio começou a funcionar no ano de 1936, situado na esquina da atual Rua Paraná com a Rua Marechal Floriano Peixoto, com o nome de Colégio “São 13 Francisco de Assis”, depois foi mudado para Educandário “São Francisco de Assis”, que em 30 de março de 1958 passou a funcionar em novo endereço, na Rua Quintino Bocaiuva, 707, atualmente sob o número 1376. Em 08 de janeiro de 1970, foi elevada a categoria de Grupo Escolar “São Francisco de Assis”. Pelo Decreto nº 4495/78, o Grupo Escolar “São Francisco de Assis” passou a denominar-se Escola “São Francisco de Assis” – Ensino de 1º Grau. Pela Resolução nº 930/83 a Escola “São Francisco de Assis”, passa a denominar-se Escola Estadual “São Francisco de Assis” – Ensino de 1º grau.

 Também eram ministradas aulas de datilografia, curso devidamente registrado na Secretaria Estadual de Educação e Cultura. Em 1992, instalou-se o processo de municipalização do ensino no município, passando assim a denominação de Escola Municipal “São Francisco de Assis” – Ensino de 1º Grau. Em dezembro de 1994, iniciaram-se as obras de ampliação da escola, sendo construídas duas salas, dois banheiros e a ala administrativa e foram concluídas em 1995. 

Em 1995, a denominação passou a ser Escola Estadual Sagrada Família – Ensino de 1º Grau, tendo o Governo do Estado como mantenedor e estando sob a direção da Irmã Maria das Dores Ramos. Recebeu a Autorização para o Funcionamento através da Resolução 5503/94, publicado no Diário Oficial em 11/11/94, quando começou a funcionar o ensino de 5ª a 8ª série, iniciando com duas turmas de 5ª série e passando gradativamente a 6ª, 7ª, 8ª.  

O PRESENTE ARTIGO É DE TOTAL RESPONSABILIDADE DE SEU AUTOR 

 


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