24/06/2020 às 16h45min - Atualizada em 24/06/2020 às 16h45min

Em depoimento, Flordelis admite que rapaz que apresentava como único filho biológico é adotado

- CAROLINA HERINGER (O EXTRA)
A deputada federal Flordelis dos Santos (PSD) admitiu em depoimento que Daniel dos Santos de Souza, sempre apresentado por ela e pelo marido, o pastor Anderson do Carmo, assassinado em 2019, como único filho biológico do casal, é na verdade adotado. O depoimento ocorreu no dia 21 de maio e, segundo a polícia, a parlamentar só confessou após ser confrontada com as informações levantadas nas investigações e depoimentos de testemunhas.
O assassinato do marido da deputada acabou trazendo à tona dúvidas se ambos realmente eram pais de Daniel. Ao menos seis pessoas relataram à polícia que o rapaz foi, na realidade, adotado, ainda que os trâmites formais do processo não tenham sido seguidos. A primeira a fazer tal relato foi a mãe do pastor, Maria Edna do Carmo, ao ser ouvida na Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá na primeira fase das investigações do assassinato.
Em seu último depoimento à polícia, Daniel afirmou que após o assassinato de Anderson, dois de seus irmãos lhe relataram que já sabiam da verdade sobre sua história, mas eram proibidos por Flordelis de falar sobre o assunto. Daniel foi ouvido na Delegacia de Homicídios (DH) no dia 8 de novembro do ano passado. Ele contou aos investigadores que só soube que poderia não ser filho de Flordelis e Anderson após a morte do pastor, ao receber uma mensagem pelo Instagram de uma prima que dizia ser de sua verdadeira família biológica.
O rapaz contou que teve a confirmação da história por dois irmãos, filhos afetivos de Flordelis, que lhe relataram que foram proibidos pela pastora de falar do assunto, porque poderia “dar merda”.
Flordelis só confessou à polícia que Daniel não era filho biológico dela e do pastor após a DH reunir diversas provas e relatos de testemunhas sobre o caso. A pastora admitiu não ser mãe do rapaz em depoimento no dia 21 de maio.
Mulher se diz mãe biológica
Uma das testemunhas localizadas pela DH é Janaína Manoel do Nascimento Barbosa, que afirma ser a verdadeira mãe biológica de Daniel. Ela contou aos investigadores que decidiu entregar o filho recém-nascido para que Flordelis cuidasse, pois sua gravidez não tinha sido aceita por sua família. A mulher afirmou aos policiais ter ouvido da pastora que ela não precisava se preocupar, pois sempre seria a mãe verdadeira de Daniel.
A mulher relatou que continuou frequentando a casa de Flordelis após Daniel ter ido morar no local, para continuar visitando o filho, mas encontrava dificuldades. Janaína diz que estranhava pois sempre que chegava na casa o menino estava fazendo algo, como tomando mamadeira ou banho, e por isso nunca conseguia ficar com ele.
Janaína contou aos investigadores que ela própria nunca conseguiu dar mamadeira para Daniel, pois Flordelis dizia que o bebê só mamava em seu colo. A mulher relatou ainda que perdeu o contato com o filho em uma ocasião em que Flordelis disse a ela que precisava se mudar, pois um homem de nome Pedro, que seria o mantenedor da casa, havia se afeiçoado por Daniel e queria ficar com ele.
“Flordelis explicou que esse tal Pedro era muito poderoso, e que se ele quisesse, poderia tirar as crianças dela. Por isso, Flordelis estaria ajeitando tudo para mudar de endereço, e não queria que ninguém soubesse”, diz um trecho do depoimento de Janaína. Ela diz não saber a quem Flordelis se referia, mas tem conhecimento de que o empresário Pedro Werneck era quem ajudava a família.
Janaína disse que depois do episódio ficou doente, passando mais de um ano em tratamento médico. Posteriormente, tentou localizar Flordelis e voltou até a casa do Rio Comprido, mas o lugar já estava fechado. Depois disso, não teve mais notícias da pastora e de Daniel.
Documentos têm informações divergentes
A DH conseguiu localizar os prontuários médicos de Janaína na maternidade Santa Helena, em Duque de Caxias, comprovando acompanhamento de sua gravidez e que deu à luz na unidade de saúde no dia 18 de janeiro de 1998. A data é a mesma que consta na certidão de nascimento de Daniel.
No entanto, no documento foi registrado que Daniel teria nascido em casa, na favela do Jacarezinho, no primeiro endereço de Flordelis e Anderson. O registro foi feito no dia 18 de junho de 1998, cinco meses após o nascimento, constando o casal como os pais da criança.
Maria Aparecida Limeira, que trabalhou em uma das casas de Flordelis no fim dos anos 90, foi responsável por intermediar o contato entre Flordelis e Janaína confirmou à DH a versão de que Daniel não seria filho biológico da deputada.
As duas testemunhas que constam na certidão de nascimento de Daniel, atestando que o bebê havia nascido em casa, no Jacarezinho, também confirmaram à DH que o rapaz não é filho biológico de Flordelis e Anderson. Uma delas é o pastor Carlos Ubiraci, um dos filhos afetivos da pastora e atual presidente do Ministério Flordelis.
Carlos admitiu à polícia que Daniel foi levado por uma mulher à casa da família, ainda bebê, e mesmo sabendo que ele não era filho de Flordelis e Anderson, resolveu ir ao cartório ser testemunha de seu nascimento. O pastor disse ainda que a decisão de registrar Daniel como filho do casal se deu porque o bebê era muito parecido com Anderson. Aos policias, Carlos disse que não sabia estar cometendo crime.
Registrar o filho de outra pessoa como seu é crime previsto no Código Penal. A pena para o delito é de dois a seis anos. Flordelis foi eleita deputada federal no ano passado, com quase 200 mil votos, tendo como uma das bandeiras a desburocratização da adoção no Brasil. Em maio de 2019, a parlamentar liderou um seminário sobre o tema na Câmara dos Deputados.
A DH também ouviu outra testemunha que consta na certidão de Daniel, Sandra Helena Pinheiro de Sousa. A mulher, que frequentava a casa de Flordelis no Rio Comprido, alegou que foi convidada por Anderson e a pastora a ir até um cartório ajudar no registro de Daniel e ela alega acreditar que estava participando de algo que auxiliaria na adoção do menino. Sandra disse saber que Daniel não era filho biológico de Flordelis.
Em seu depoimento à DH, Daniel contou que Flordelis, em alguns momentos, chegou a perguntar para ele se alguém já havia lhe falado que ele não era filho biológico dela e de Anderson. A pastora pedia para ele não acreditar, caso isso acontecesse e até se oferecia para fazer exame de DNA.
Ao EXTRA, Flordelis disse que os esclarecimentos sobre o registro de Daniel já tinham sido prestados na DH. Questionada se o rapaz é seu filho biológico, a parlamentar não respondeu.
Melhor pegar a resposta na DH. Meus advogados me orientaram a não falar nada por enquanto – afirmou.
O EXTRA procurou o empresário Pedro Werneck, mas não conseguiu contato para comentar a citação ao seu nome no depoimento de Janaína.
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