19/09/2017 às 14h54min - Atualizada em 19/09/2017 às 14h54min

"Lidei com vida e morte ao mesmo tempo", diz mãe solo de quadrigêmeos

Luciane Carvalho realizou o sonho de ser mãe - com quadrigêmeos! - mas perdeu o pai praticamente ao mesmo tempo em que os bebês nasceram. Confira o depoimento dela

revistacrescer.globo.com
A administradora Luciane Carvalho, 37 anos, se tornou a "mamãe trevo". Teve a sorte (e o desafio) de se tornar mãe de quadrigêmeos na corajosa aventura de se embrenhar pela maternidade solo. Como se não bastasse tanta emoção, sua gestação se desenrolou junto ao  último fio de vida de seu pai, diagnosticado com uma doença agressiva. Nascimento e morte. Presenças e ausência. Esperança e dor. Foi sobre tudo isso que ela falou em seu depoimento à CRESCER:
 
"Desde muito cedo tive o sonho de ser mãe, mas quis esperar pelo momento certo. Sempre tive a intenção de construir uma família, ter um parceiro, um marido...  Sonhava com isso. E fui tentando alguns relacionamentos que não vingaram, por vários motivos.
 
Então, estabeleci uma meta para a maternidade: queria esperar até os 39 anos, quando já teria me organizado financeiramente e também estaria no limite de idade para ganhar um bebê sem correr maiores riscos.
 
Só que em setembro do ano passado, quando eu estava com 37 anos, meu pai foi diagnosticado com mielodisplasia, uma disfunção na produção das células sanguíneas. Foi aí que meus planos mudaram. Sempre quis que ele participasse da minha gestação e não queria correr o risco de que ele não conhecesse meus filhos. Por ele, adiantei meu sonho.
 
Tomei medicamentos para acelerar a ovulação e fiz uma inseminação artificial com esperma comprado do banco. Com 15 dias de gestação, descobri que estava grávida.
 
Múltiplas descobertas
Na primeira ecografia, repeti para o médico que tinha muito medo de estar grávida de mais de um bebê, algo que já me procupava antes mesmo de fazer a inseminação. Queria ter dois filhos, mas um de cada vez. Ele me tranquilizou dizendo que probabilidade de ter gêmeos era de 6% e eu me acalmei.  Meu irmão, que é meu gêmeo, estava comigo. De repente, o médico me disse: “Olha, o seu bebê está ótimo, mas tem mais dois aqui”. Comecei a chorar na hora. Lembro que meu irmão me consolou e me perguntou por que eu estava triste se tinha realizado o meu sonho de ter filhos.
 
15 dias depois, fiquei sabendo que eram quatro.
 
Fiquei em choque.
 
Foi muito punk, mas tive todo apoio da minha família, principalmente dos meus pais. Pedi que eles não comentassem com ninguém em um primeiro momento, porque eu precisava assimilar aquilo sozinha antes de qualquer coisa. Passei dois dias sem dormir, tentando entender o que estava acontecendo e pensar como eu iria fazer dali para a frente. Fui para a praia, em Cidreira (RS), passar uns dias na casa dos meus pais e eles me acolheram de uma forma tão linda, com tanto amor... Foi só a partir daí que eu comecei a curtir a gestação de fato.
 

Luciane com o pai, João Luiz, durante a gestação (Foto: Deise Carvalho Fotografia)

Luciane com o pai, João Luiz, durante a gestação (Foto: Deise Carvalho Fotografia)


 
Vida e morte
Enquanto eu estava grávida, meu pai passou por um transplante e parecia que ia ficar bem, que tinha dado tudo certo. Ficamos aliviados.
 
Segui a gestação, fazendo uma porção de exames e a ideia era entrar em repouso a partir de agosto. Mas no dia 19 de junho, fui fazer uma consulta de rotina e a obstetra viu que eu estava com 1 centímetro de dilatação. Fiquei internada desde então, em repouso absoluto durante quase três meses. Não levantava para nada, nem para fazer minhas necessidades. Também precisei passar por uma cerclagem, uma espécie de costura no colo do útero para evitar a dilatação. No final, a médica liberou um banho na cadeira de rodas ou dar alguns passinhos, mas nada além disso.
 
Quando estava de 32 semanas, os bebês pararam de ganhar tanto peso quanto estavam ganhando, o que nos fez repensar a espera pelas 34 semanas para fazer a cesárea, como costuma ser o protocolo. Acompanhamos durante mais uns dias e marcamos o parto para 33 semanas. Não queríamos correria, porque não sabíamos em que condições os bebês nasceriam. Felizmente deu tudo certo.
 

Luciane com Antonella e Nico (Foto: Reprodução - Instagram)

Luciane com Antonella e Nico (Foto: Reprodução - Instagram)


 
Meus filhos nasceram dia 29 de agosto, uma terça-feira. E para espanto de todos, os quatro extremamente saudáveis. O momento mais emocionante, foi quando eu escutei o choro do Nicolas, que nasceu primeiro. Depois a Antonella, que nasceu empelicada, Sofia e depois a Valentina, que é a menorzinha.
 
No mesmo dia em que as crianças nasceram, o médico confirmou que a doença do meu pai tinha voltado. E com força total. Quando os bebês estavam com dois dias de vida, meu pai foi vê-los na UTI. Era quinta-feira. No dia seguinte, ele acordou acabado, foi tomar uma medicação e precisou ser internado. Não saiu mais do hospital.
 
Mas foi incrível como tudo parece ter sido cronometrado. Na semana seguinte, eu tive alta na quinta-feira. Na sexta, fui me despedir dele no hospital e, no sábado, ele faleceu. Lidei com vida e morte ao mesmo tempo. Tudo é muito lindo e muito triste na mesma medida. Mas graças à espiritualidade, eu e minha família tivemos força e serenidade para passar por isso.
 
Recomeço
Nesse momento, os quatro estão na UTI. Precisam atingir a meta de peso e aprender a mamar antes de poderem vir para casa. Fico com eles das 8h30, saio às 18h30, e tenho que administrar a reforma da minha casa, que precisou ganhar um quarto extra para receber os bebês. Estou cuidando de tudo ao mesmo tempo.
 
Os bebês ajudam muito a me manter ocupada e passar pelo luto. Quando eu paro, e me lembro do meu pai, realmente fico emocionada porque tinha muita vontade de tê-lo comigo nesse momento. Mas fico feliz porque se não tivesse tomado essa decisão de ser mãe, ele não teria participado de nada, não teria visto os netos. Para mim é muito mais que sorte, é amor!"

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