
O homem sempre sentiu necessidade de se comunicar — e essa necessidade foi, e é, absoluta. Desde as pinturas mais remotas nas paredes das cavernas até os grafites complexos espalhados pelos centros urbanos, sempre buscou — e busca — uma forma visceral de se expressar.
Eis o homem: um criador de caracteres em busca de ser compreendido.
Quando a palavra emitida pelos lábios mais ignorantes se tornou insuficiente, o homem, com suas asas de cera, se redescobriu. Fez uso do fogo, da água, da areia, do barro, da madeira... Tirou tinta de plantas e frutos, fez de galhos mastigados pincéis, e de garranchos incompreendidos, textos complexos e cheios de mistério.
E o que é o mistério, senão um infinito oceano? Um céu embebido em segredos? Uma oração na calada da noite?
O que é o mistério senão o beijo escondido entre a árvore e o portão, o abraço amigo de despedida, os olhos cerrados, adormecidos no sono da morte?
O que é o mistério senão um passear pelo passeio em dia de garoa fria e fina, os gritos da tempestade, o mar arrepiado ao clarão da luz?
Metáforas?
Escrever é o mistério mais salutar existente.
O ato de escrever — seja no escritório, na rua, na escola — deve ser visto como algo sagrado. E, como tal, deve ser tratado.
Quantas crianças sofrem de poesia e nem sabemos?
Daí vem uma ordem de cima, pedindo que sejam internadas — e, como bons "cuidadores", damos cabo da ordem e enterramos ali um artista.
Por que não lhes oferecemos o pincel, a pena, a madeira, o barro, a tinta e a tela...
Por que não as deixamos com suas loucuras?
Por que, como adultos, temos o péssimo hábito de destruir a criança-artista dentro de nós? E, pior ainda... dentro dos outros?
Escrever é uma arte!
Quando me convidam para falar sobre o tema, minha única preocupação é tirar os professores do hospício interior em que o Estado os aprisiona — um estado vegetativo, impassível, letárgico, cheio de feridas, mágoas e sem referências. Sem pinos de sustentação. Sem apoio.
O professor precisa de mimo, de apoio, de um pino de sustentação.
Só assim conseguirá despertar no coração das crianças — sua matéria-prima — o desejo de serem agentes da criação.
Pois, para criar escritores, precisamos antes destruir os Senhores Feudais Modernos...
Derrubar muros. Construir pontes.
Existem milhares de recursos à disposição dos educadores, mas nenhum é tão crucial quanto a imaginação — a do professor, maestro do saber, e a do educando, que ainda está afinando seu instrumento.
Que bom seria se pudéssemos afinar esses instrumentos à sombra das árvores do saber.
A utilização de mídias em sala de aula é fundamental para esse desenvolvimento analítico e proativo.
Ilustrar ideias transforma a aula em cinema, teatro, show.
Se não há cavernas, criemos uma.
Se não há teatro, levantemos um palco — onde quer que seja.
Se não há câmeras, usemos celulares.
Se não há tela, tinta ou pincel...
Façamos da caneta e do papel o arcabouço de um desenho com palavras — sentimentos escondidos, tímidos, que guardamos no peito.
Contudo, devemos lembrar: o aluno é o músico. O professor, o maestro.
E se escrever é a sinfonia... alguma vez você viu um maestro com os braços cruzados durante uma apresentação?
Para criar criadores, devemos ser criadores.
Para sermos professores nesses tempos de tecnologias, devemos ser atrativos, competitivos — e fazer de nossas aulas um mundo de mistérios, segredos e maravilhas.
Meu circo procura: palhaços, mágicos e domadores de palavras.