13/01/2020 às 15h27min - Atualizada em 13/01/2020 às 15h27min

Conversas em celular ligam chacina em Maricá a PM acusado de ser chefe da milícia

- Rafael Soares
A investigação da Polícia Civil sobre a chacina de cinco jovens num condomínio do programa "Minha casa, minha vida" em Maricá, Região Metropolitana do Rio, descobriu uma ligação entre o homem apontado como executor do crime e um PM acusado de ser o chefe da milícia que atua na cidade. No celular de João Paulo Firmino, que está preso pelos assassinatos, agentes da Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói encontraram diálogos entre o atirador e o sargento Wainer Teixeira Junior sobre a chacina. O PM era lotado no 12º BPM (Niterói) e chefiava o Patrulhamento Tático Móvel (Patamo, no jargão policial) na cidade.
O EXTRA teve acesso ao relatório do inquérito da DH sobre o crime, que aconteceu em março de 2018. Segundo o documento, o sargento é um dos integrantes do grupo do aplicativo WhatsApp para o qual Firmino mandou fotos das vítimas mortas horas depois da chacina. Em seguida, o executor pediu para os demais não comentarem sobre o fato: “Pode respingar onde não deve”, escreveu.
O PM e o atirador também conversaram entre si, reservadamente, sobre o crime. De acordo com o relatório, “percebe-se que Teixeira fica incomodado com a repercussão da chacina”. Num áudio enviado a Firmino, o sargento “demonstra estar descontente com o autor da chacina, pois teria atraído muita atenção para a região”. Teixeira temia que a polícia passasse a investigar os crimes cometidos pela milícia: “A DH vai mexer nas coisas antigas”. O PM finalizou dizendo que “o autor da chacina teria que pagar por isso”, segundo o inquérito.
Firmino encaminhou o áudio que recebeu do sargento a um comparsa e xingou Teixeira: “Está querendo dar os outros”. Na época do crime, o sargento cumpria prisão domiciliar na casa onde vivia em Maricá, após ser acusado de receber propina de traficantes.
Amigo do sargento
Numa das últimas conversas entre o sargento e o atirador obtidas pela DH, Firmino mostrou ao PM uma reportagem que apontava uma milícia de São Gonçalo — rival do bando de Maricá — como responsável pela chacina. Teixeira comemorou: “Show, essa pica é deles”. O celular de Firmino foi apreendido um mês após o crime, quando ele foi preso.
Em depoimento na especializada, Firmino disse que é amigo do sargento e que os dois saem “para tomar cerveja” juntos. O homem também disse ter sido convidado para almoçar na casa do PM um mês antes do crime, mas afirmou não saber se Teixeira teria outra fonte de renda além da polícia.
Quem é o mandante?
Mesmo após a prisão de Firmino, a DH continuou investigando o crime. O inquérito concluiu que o atirador não agiu sozinho: ele só apertou o gatilho após receber uma autorização, por telefone. Até hoje, a polícia não sabe quem é o mandante.
Para a DH, o crime foi cometido “com o propósito de reafirmar o poder da milícia” no condomínio. Foram mortos Sávio Oliveira, de 20 anos, Marco Oliveira, de 17, Patrick da Silva Diniz, de 19, Matheus Bittencourt, de 18, e Matheus Baraúna, de 16. Sávio, Matheus e Marco faziam parte da Roda de Rima, projeto da prefeitura que estimulava ensino de música e dança para crianças.
O sargento Teixeira está preso desde setembro de 2018 na Unidade Prisional da PM, acusado de chefiar a milícia de Maricá.
Outro lado
Após o fechamento da reportagem, o advogado do sargento Wainer Teixeira Junior, Daniel Rodrigues da Silva, enviou ao EXTRA uma nota, alegando que o PM é "acusado injustamente" de chefiar a milícia de Maricá. Leia a nota, na íntegra:
"O policial Wainer foi acusado injustamente, o que já restou comprovado ao longo do processo uma vez que não há prova alguma contra o mesmo salvo a citação ao nome do mesmo em ligações telefônicas de terceiros obtidas ainda de forma irregular. Já há um habeas corpus em andamento no STJ através do qual espera que seja reconhecido o direito de liberdade do policial. A delegada da DH de Niterói, Bárbara Lomba, em audiência afirmou ainda que em momento nenhum pediu a prisão e/ou indicou a denúncia contra o mesmo, ou seja, restou clara a perseguição política ao policial. No que se refere a chacina do Minha casa, Minha vida, não há ligação alguma entre o fato e o policial, que nunca foi sequer investigado por tal crime, e há que se destacar que o suposto acusado de ter cometido o crime já foi até absolvido do suposto crime de milícia, assim sendo comprovada mais uma vez a inexistência da suposta milícia da qual o policial Wainer é acusado de ser chefe, sendo que nunca teve nenhum envolvimento com a ilegalidade, sendo um homem correto, pai de 4 filhos, tendo mais de 20 anos de serviços prestados à sociedade como policial militar e tendo sido homenageado pelo trabalho à frente de uma equipe em Maricá que mediante sua experiência e dedicação baixou os índices de criminalidade em Maricá, e desde que entrou para a política visando políticas para atender menores carentes e evitar o envolvimento dos mesmos com o tráfico vem sofrendo perseguição política de pessoas que estão utilizando de acusações falsas para tentar denegrir a imagem do sargento como político na cidade onde é conhecido pelas suas ações sociais e seus serviços policiais prestados a cidade".
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