27/12/2019 às 15h32min - Atualizada em 27/12/2019 às 15h32min

Ele disse que ia me matar, que não tinha nada a perder, diz mulher mantida como refém em Caxias

Altina Braga Conceição, de 67anos, ficou sob ameaça de um homem armado com uma faca em Duque de Caxias

- GISELE BARROS
Altina Braga Conceição, de 67 anos, foi mantida refém por cerca de três horas dentro da própria casa na manhã desta sexta-feira, na Alameda Pasteur, no Jardim Primavera, Duque de Caxias. Com uma faca em punho, Marcelo de Oliveira Santana, de 39 anos, ameaçou matá-la diversas vezes. O homem é pedreiro e trabalhava na casa da família há cerca de sete meses.
Ele falava que se alguém chegasse perto dele, ele não tinha nada a perder, dizia que ia me matar. Eu ainda tentei segurar a faca pra ele não colocar no meu pescoço, por isso estou com o dedo machucado. Naquele momento eu comecei a orar, pedi a Deus que tudo terminasse bem. Graças a Deus estou aqui — disse a mulher.
Altina conta que Marcelo sempre prestou o serviço corretamente. Ele recebia diárias que variavam de R$150 a R$200 e trabalhava na construção de um muro e um piscina nos fundos da residência.
Era um homem muito trabalhador. Ele nunca tinha demonstrado agressividade e sempre trabalhou direito. Achamos que essas coisas não podem acontecer com a gente. Assistimos na televisão e não acreditamos. Mas aconteceu. Uma pessoa que eu dava comida, dava roupa, ontem mesmo dei um presente. Dei tudo. Não sei o que aconteceu — lamentou.
Pedreiro disse que era perseguido
Neta de Altina, a estudante Luyse Braga, de 22 anos, que mora com a avó, foi quem ouviu um barulho suspeito no quintal durante a madrugada. A princípio, pensou que eram os cachorros correndo no local. Ás 5h, porém, Marcelo pediu para entrar na residência, alegando que estava sendo perseguido.
Por volta de 5h eu escutei novamente um barulho na porta, como se estivessem tentando abri-la e avisei minha avó. Quando fui na direção do barulho, vi a perna de um homem passando. No instante que a gente foi pro corredor ele ouviu nossa voz e bateu na porta. Pediu para deixarmos ele entrar porque estava sendo perseguido. Quando eu disse que ia buscar a chave ele arrombou a porta e entrou. Ele estava com uma barra de ferro na mão e eu comecei a gritar "O que é isso? Por que você está fazendo isso? Você não pode ficar aqui dentro. Logo depois ele pegou a faca na gaveta da cozinha e segurou minha avó — contou a jovem.
Luyse disse que o pai, o motorista Marlon Braga, de 47 anos, que vive na casa ao lado, ouviu os gritos e correu para tentar acalmar Marcelo e socorrer as duas, sem sucesso. Logo depois, ele acionou a polícia para o local.
O Marcelo falava que teve uma briga com a família e que a irmã mandou matá-lo. Não sei se isso aconteceu mesmo, ele estava alucinado. Repetiu várias vezes que tinham mais de 50 pessoas atrás dele no quintal, que estavam escondidos esperando ele descer. Minha avó repetia várias vezes que se ele quisesse a gente ia na delegacia denunciar quem estava o ameaçando, eu falei que a gente conhecia um advogado que podia ajudar, mas nada adiantou — relatou Luyse.
Marlon disse que Marcelo chegou na residência dele por volta de 2h30. Por conhecer o homem, o motorista deixou que ele ficasse no local.
Ele me falou que precisava de um lugar pra ficar. Já nos conhecíamos, estava sempre aqui em casa e eu jamais imaginei que a situação poderia terminar dessa forma. Ele nunca demonstrou ter qualquer problema psicológico ou deu sinal de agressividade — lembrou.
Os policiais militares do 15º BPM (Duque de Caxias) foram os primeiros a chegar no local, mas como havia uma refém, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) assumiu a negociação para a libertação dela.
O empresário Narley Braga, de 37 anos, filho de Altina, disse que soube da notícia do sequestro por volta de 6h30, após receber um telefonema da mulher.
Quando ela disse que minha mãe tinha sido sequestrada, eu não acreditei. Apenas acreditei quando vi na televisão a rua onde ela mora. Fiquei desesperado. Moro na Tijuca e corri pra lá — contou.
Segundo ele, assim que o viu, a mãe disse que apenas pensou nos netos durante o sequestro.
Ela perguntou do meu filho logo que me viu. O Bernardo é o caçula, tem dois anos e meio. Ela ficou com medo de morrer e não ver ele crescer. Por um lado, estamos arrasados com o que aconteceu, por outro, felizes por ela estar bem — disse.
Marcelo Santana foi levado para o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes após liberar a refém. Não foi necessário o uso de arma por parte dos policiais durante a ocorrência. O homem largou a faca após a negociação e foi em seguida imobilizados e preso. O pedreiro foi levado para a 60ª DP (Campos Elíseos), que vai investigar o caso.
Sequestrador invadiu outras casas
A casa da família Braga não foi a única que o pedreiro invadiu nesta madrugada. Por volta de 1h30, o empresário Franklin dos Reis, de 33 anos, conta que Marcelo entrou na casa dele na Rua Visconde de Itaúna, também em Caxias. Ele foi até o local do sequestro para se certificar de que se tratava da mesma pessoa.
Quando ouvi o barulho eu fui pra fora e vi que ele estava tentando invadir. Ele dizia que estava sendo perseguido também. Foi pro telhado e arrancou umas 30 telhas. Ele jogou elas na minha direção e no teto do meu carro, que ficou todo danificado. No fim das contas, ele pulou um muro enorme e fugiu antes que eu pudesse fazer qualquer coisa — contou.
Familiares de Marcelo que não quiseram se identificar estiveram na delegacia nesta manhã para acompanhar o caso. Todos demonstraram estar supressos com que o aconteceu. O homem não era casado, mas tinha dois filhos e foi descrito por eles como um "trabalhador" e alguém que nunca sofreu um surto.
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