08/06/2017 às 16h29min - Atualizada em 08/06/2017 às 16h29min

FÓRMULA 1 - Hamilton e o GP do Canadá, tudo a ver. Mas os pneus precisam funcionar

Histórico do inglês na pista de Montreal é de cinco vitórias em nove GPs disputados. Tricampeão do mundo está na vice-liderança do campeonato, 25 pontos atrás de Vettel

Livio Oricchio - JORNAL JCN
Sebastian Vettel, da Ferrari, abriu 25 pontos de vantagem na classificação do campeonato para Lewis Hamilton, Mercedes, com a sua vitória e o sétimo lugar do adversário no GP de Mônaco, dia 28. Depois de seis etapas disputadas na temporada, Vettel soma 129 e Hamilton, 104. A seguir vêm Valtteri Bottas, Mercedes, 75, e Kimi Raikkonen, Ferrari, 67.
Mas o sucesso do piloto inglês na próxima etapa do mundial, domingo, o GP do Canadá, é tão grande que há boas chances de essa diferença ser reduzida. Desde, claro, que a Mercedes tenha atenuado as dificuldades em aquecer os pneus evidenciadas de novo no Circuito de Monte Carlo, como já havia ocorrido em Sochi, na Rússia. Ao menos com Hamilton.
Um dado exibe com perfeição a empatia do piloto três vezes campeão do mundo com os 4.361 metros e 14 curvas do Circuito Gilles Villeneuve, em Montreal: disputou desde a estreia na F1, em 2007, nove edição do evento, venceu cinco, ficou em terceiro em 2013 e abandonou em três ocasiões.
Depois de ser apenas sétimo em Mônaco, o GloboEsporte.com perguntou a Hamilton o que projetava para o fim de semana em Montreal, já que a Pirelli distribuirá aos times os mesmos pneus ultramacios, supermacios e macios das pistas de Sochi e Monte Carlo. “Eu adoro aquele lugar, eu me dou quase sempre muito bem lá, obtive alguns dos meus mais importantes resultados no Canadá. Serão os mesmos pneus, é?”, disse Hamilton.
O piloto da Mercedes não sabia que a FIA e da Pirelli haviam escolhido os pneus mais macios existentes. Em 2016 Hamilton venceu a prova com um único pit stop e essa é a tendência de novo, agora.
O problema é que o modelo W08 Hybrid da Mercedes tem apresentado sérias dificuldades em ser rápido com os ultramacios, em especial. Na mesma conversa com os jornalistas, depois da corrida de Mônaco, Hamilton falou: “Esta semana (a passada) vou a nossa sede (em Brackley, Inglaterra) estudar com nossos engenheiros o que fazer para que eu não enfrente mais esses problemas. Não faz sentido eu tê-los e Valtteri, não. Nossos estilos são muito, muito parecidos, e aqui em Mônaco o acerto dos dois carros era igual”.
Na etapa de Barcelona, dia 14, o grupo de projetistas sob a coordenação de James Allison, diretor técnico da Mercedes, introduziu uma nova versão do W08 Hybrid, destinada a essencialmente ser mais eficiente com os pneus mais macios. No GP da Espanha, o carro de Hamilton tratou muito bem os macios, médios e duros, haja vista que venceu.
Mas no seguinte, Mônaco, quando se acreditava que o desafio de fazer os pneus dianteiros e traseiros ultramacios e até os supermacios atingirem a temperatura ideal de aderência, ao menos no carro de Hamilton, as mudanças no W08 Hybrid não deram o resultado esperado. Curiosamente Bottas foi menos afetado, como já havia acontecido em Sochi, quando o finlandês ganhou a corrida.
Notícia não boa
Ainda em Mônaco o diretor de competições da Pirelli, Mario Isola, lembrou ao GloboEsporte.com que um dos desafios da pista de Montreal é fazer os pneus dianteiros atingirem os cerca de 115 graus de temperatura exigidos para responder com o máximo de aderência.
Os carros permanecem pouco tempo em curva, por elas serem breves, curtas, e de baixa velocidade. As solicitações aos pneus provêm das freadas fortes nas curvas 1, 3, 6, 8, 10 e 13, e “são sempre acelerações longitudinais, não laterais, o que é outro fator que reduz a possibilidade de os pneus aquecerem”.
A Ferrari não tem nenhum problema para fazer os pneus dianteiros atingirem a temperatura dos traseiros, mais fáceis de se aquecerem. Essa é uma das razões do equilíbrio do modelo SF70H de Vettel e Raikkonen, autores de uma dobradinha na etapa no Circuito de Monte Carlo.
Para Hamilton, o fato de Bottas ter se dado bem melhor que ele em Sochi e em Mônaco, quarto colocado, é animador. “Como disse, o problema é no meu carro. É isso que temos de descobrir. Nosso carro é rápido, desde que levemos os pneus para a sua janela de temperatura ideal, e com Valtteri tem sido possível.”
Outro desafio para Hamilton será superar os esperados períodos pós safety car, comuns no GP do Canadá, decorrentes da baixa aderência do asfalto e da proximidade dos guardrails ou muros em vários pontos do traçado, sem área de escape. A Mercedes poderá necessitar de uma volta a mais para aquecer os pneus, tornando-se vulnerável à ultrapassagens nesses instantes.
O histórico de sucesso de Hamilton em Montreal terá no clima outro elemento que poderá jogar contra o modelo W08 Hybrid. A previsão para o fim de semana é de temperaturas relativamente baixas, entre 9 e 14 graus, com possibilidade de pancadas de chuva no sábado e domingo. O frio não é um amigo da Mercedes, este ano.
Mas, como comentou Toto Wolff, sócio e diretor da escuderia alemã, ao GloboEsporte.com, em Mônaco, “hoje não sabemos o que faz o carro de Lewis ter os problemas que estamos vendo. Nada impede, porém, de descobrirmos o que está causando, principalmente por termos a referência do carro da Valtteri, onde isso se manifesta menos, e Lewis passar a ser tão rápido quanto Sebastian. Nosso carro é veloz. É como Lewis disse, trata-se apenas de fazer seus pneus ultramacios trabalharam na janela certa de temperatura.”

Se a exemplo do Circuito da Catalunha Hamilton dispor de um carro competitivo, em razão do funcionamento normal dos seus pneus, de fato não será fácil para Vettel vencê-lo no Canadá. O piloto inglês se supera em Montreal e nunca esteve tão estimulado para ser campeão do mundo novamente. A luta com Vettel parece diverti-lo como nunca.
Local da primeira vitória e pole
Na resposta ao GloboEsporte.com, em Mônaco, quando disse que o Circuito Gilles Villeneuve é especial para si, é porque foi lá que em 2007, temporada de estreia na F1, Hamilton, aos 22 anos, estabeleceu sua primeira pole position e venceu o primeiro GP. Tendo como companheiro na McLaren ninguém menos de Fernando Alonso, vindo de dois títulos mundiais nos dois campeonatos anteriores, 2006 e 2005, com a Renault.
Sem ter maior experiência na F1 e sem nunca ter pilotado no Circuito Gilles Villeneuve, Hamilton foi mais eficiente que o piloto até hoje mais completo da competição, Alonso. E com o mesmo carro.
O piloto inglês venceria a corrida de Montreal em quatro outras ocasiões, 2010 e 2012, ainda na McLaren, e nas duas últimas edições, 2016 e 2015, com Mercedes. Obteve, também, cinco poles, nos três primeiros anos e nos dois últimos.
Ter no currículo 64 poles e estar a apenas uma do seu ídolo, Ayrton Senna, é outro ponto de estimulação para Hamilton.
Uma curiosidade. Em 2016, Hamilton se apresentou para o GP do Canadá, sétimo do calendário, como agora, também em segundo lugar na classificação, com 82 pontos, diante de 106 de Nico Rosberg, seu parceiro na Mercedes, líder. A diferença era de 24 pontos. Só lembrando, hoje entre Hamilton e Vettel há 25 pontos. Mas depois de vencer e Rosberg terminar apenas em quinto, Hamilton reduziu a diferença para nove pontos, 116 a 107.
Uma das razões, senão a principal, de Hamilton ser tão rápido no Circuito Gilles Villeneuve é porque o exame de eficiência nas frenagens é dos maiores no campeonato. E essa é uma das especialidades do seu vasto menu de habilidades. Hamilton é o piloto que mais freia próximo às curvas e mantém o carro equilibrado ao iniciá-las.
Niki Lauda, sócio e diretor do time da Mercedes, falou no ano passado, depois da vitória de Hamilton em Montreal: “Lewis é brilhante em pistas como esta, Monza, Abu Dhabi, onde você tem várias freadas fortes”.
Outro aspecto que deve ser lembrado quanto ao GP do Canadá é que apesar do favoritismo lógico de Vettel, este ano, pelo que também está pilotando e a velocidade do modelo SF70H da Ferrari, com qualquer pneu, ele venceu a corrida uma única vez, em 2013. E não há como negar que entre 2010 e 2013 o seu carro na RBR era, de longe, o mais rápido da F1, como seus quatro títulos, conquistados com todos os méritos, atestam.
Os pilotos vão para a pista nesta sexta-feira às 11 horas, horário de Brasília, no primeiro treino livre.
 

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