06/06/2018 às 22h56min - Atualizada em 06/06/2018 às 22h56min

Meditação é um “mundo”; conheça os vários tipos

mindfulnessparaodiadia.blogosfera.uol.com.br - Marcelo Demarzo
Crédito: iStock
A palavra “meditação” é como se fosse um termo geral ou genérico (dizemos termo “guarda-chuva”), e pode designar uma infinidade de técnicas (mindfulness é apenas uma delas). Existem várias classificações dos diferentes tipos de meditação. O modelo mais atual e completo é o da equipe do pesquisador Richard Davidson, que divide as práticas meditativas em três grandes grupos:
 
1. Atencionais: treinamento da atenção
É o grande grupo no qual se encaixam as técnicas de mindfulness. Essas técnicas desenvolvem atenção e metacognição (capacidade de observar a si mesmo e ter consciência dos próprios processos mentais e emocionais, inclusive poder perceber quando a mente viajou). Na ausência de metacognição, a pessoa se funde com os próprios pensamentos e emoções.
Um exemplo cotidiano seria quando vemos um filme interessante, quando somos apanhados no argumento e parece que somos parte do filme, como se fosse real. Mas quando nos distanciamos e percebemos que é apenas um filme com atores e uma trama inventada, isso é metacognição. O treinamento da atenção pelas práticas de mindfulness nos permite desenvolver essa habilidade, o que melhora os níveis de inteligência emocional, ou seja, de compreender melhor nossas emoções e das pessoas com as quais nos relacionamos, e de lidar de maneira mais efetiva com as mesmas.
 
Em geral, nesse grupo de meditação, as técnicas usam um “ponto de apoio” (ou “referência”), que chamamos de “âncora”, para o treinamento da atenção e metacognição. A “âncora” mais conhecida é a própria respiração. Funciona assim: você tem a intenção de manter a atenção nas próprias sensações e movimentos da respiração e ao fazer isso, depois de um tempo, a mente vai divagar, e então se pode voltar a direcionar a atenção para a respiração, que serve de ponto de apoio ou referência. O processo se repete em diversas práticas do grupo atencional, podendo variar a “âncora”, que pode ser, por exemplo, as sensações das partes do corpo, como na prática do “body scan” (escaneamento corporal –conheça clicando aqui).
 
Mais do que treinar a atenção em si, o que se está treinando realmente é possibilidade de percebermos mais a distração, ou seja, de estarmos menos tempo desatentos, pois a mente naturalmente irá divagar ao longo do dia.
 
2. Construtivistas: geram afeto positivo
Ao contrário das práticas do tipo atencional, que se concentram na observação ou consciência de padrões cognitivos e emocionais, as meditações construtivistas buscam modificar o conteúdo dos pensamentos e das emoções. Pode ter diferentes objetivos, como desenvolver relações mais harmoniosas com outras pessoas, melhorar as habilidades sociais nas relações interpessoais, ou ainda reestruturar valores de vida e prioridades, reorientando a mente para o que é verdadeiramente importante na vida.
 
Nesse grupo se encaixam as práticas de compaixão, cada vez mais usadas de maneira laica e científica nas áreas da saúde, educação e organizações. Nessas práticas, em geral, usam-se técnicas de visualização ou tomada de perspectiva para o treinamento de regulação das emoções, desenvolvimento de emoções sociais (por exemplo, empatia), e diluições de barreiras emocionais como a culpa e a inveja.
 
3. Desconstrutivistas: geram reflexão
Na língua portuguesa, quando falamos vamos “meditar”, pensamos que vamos refletir sobre alguma coisa ou tema, e é nesse sentido que se encaixam as meditações do tipo desconstrutivistas.
 
Esse grupo inclui técnicas mais avançadas de meditação, que visam eliminar padrões cognitivos disfuncionais, que atrapalham nossa experiência de vida diária. São usados exercícios de autoquestionamento (autoinvestigação), e levam ao que chamamos de “insight”, ou seja, mais clareza sobre nós mesmos (sobre nossos padrões de pensamentos, emoções, ações ou impulsos).
 
As pesquisas mostram que esses três grandes tipos de meditação produzem efeitos positivos distintos tanto no nível psicológico quanto neurobiológico, por exemplo, modificando diferentes áreas cerebrais. Então, idealmente, o interessante é irmos praticando e incorporando as distintas técnicas ao longo da vida.
 
Vamos meditar?
 
Referência:
Garcia-Campayo & Demarzo. ¿Que sabemos del Mindfulness? Kairós Editorial, 2018.
 
Para Saber Mais sobre Mindfulness
 
www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)
 
www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)
 
www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação “Mindfulness” na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

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