03/05/2018 às 15h40min - Atualizada em 03/05/2018 às 15h40min

Lactose: A nova vilã

Antes de cortar este açúcar da sua dieta, saiba por que ele é importante

vivabem.uol.com.br - Goretti Tenório
Na onda do "não pode isso, não pode aquilo”, a lactose ganhou status, se não de inimigo, pelo menos de suspeito de causar malefícios à saúde.
 
De acordo com um levantamento do Instituto Datafolha, 35% da população com idade acima de 16 anos relata sentir algum mal-estar depois de tomar uns goles de leite ou de saborear qualquer um de seus derivados.
 
Mas será que é para atender só essa parte da população que as prateleiras estão cada vez mais cheias de produtos “lac free” ou “zero lactose”?
 


 
Produção da lactase cai com a idade
A lactose é o açúcar natural do leite. Como tudo o que a gente come ou bebe, ela é processada na digestão para abastecer nossas células de energia.
 
Só que se trata de uma molécula grandalhona. Então, para esse jogo funcionar como deve, o organismo fabrica a lactase, a enzima que vai quebrá-la em moléculas menorzinhas que serão digeridas.
 
A torcida é pelo empate, ou seja, a produção de lactase deve ser em quantidade suficiente para processar todo o volume de lactose que entra com os goles de leite, a fatia de queijo, o requeijão na torrada, sem esquecer do bolo ou do molho branco.
 
Se falta a enzima, sobra lactose lá no intestino, sem função, sendo fermentada por bactérias e dando origem a gases e cólicas.
 
A não ser em casos raríssimos, todo mundo nasce com a capacidade de produzir lactase. Nos bebês, que só se alimentam de leite, o abastecimento está no máximo. Depois, vai naturalmente diminuindo, à medida que outros alimentos entram no cardápio.
 
Esse declínio avança com a idade e, em geral, não provoca contratempos. O problema é que, para algumas pessoas, a diminuição no fornecimento da enzima despenca demais.
 
Aqui, vale um aparte: é preciso diferenciar quando a intolerância é provocada pela baixa natural de lactase ou quando ela acontece porque o intestino está fragilizado por alguma inflamação ou infecção.
 
É que desarranjos são capazes de atrapalhar a fabricação da enzima. Nesse segundo caso, basta tratar os distúrbios que dão origem ao transtorno para que o leite e seus derivados deixem de causar chateações.
 


 
Leite zero lactose tem lactose, sim!
Para os consumidores dos produtos ditos “Sem Lactose” vale o alerta de que, embora estes termos apareçam destacados nos rótulos dos alimentos, a substância ainda existe neles. O que se faz é introduzir a enzima responsável pela sua quebra, a lactase, nas bebidas. Pode até ser que o resultado seja efetivo, mas os dizeres são falsos --o que pode ser prejudicial para quem é muito intolerante, já que a pessoa compra o produto achando que pode bebê-lo à vontade e acaba manifestando as reações.
 
Até fevereiro de 2017, as mercadorias podiam trazer em seus rótulos que eram “Zero Lactose”, já que não havia uma regra. A Anvisa, no entanto, estipulou que os fabricantes são obrigados a informar a presença de lactose nos alimentos. Isso vale para alimentos com mais de 100 miligramas (mg) de lactose para cada 100 gramas ou mililitros do produto.
 
Assim, qualquer alimento que contenha lactose em quantidade acima de 0,1% deverá trazer a expressão “Contém Lactose” em seu rótulo. Os fabricantes têm até 2019 para realizarem as devidas alterações nos rótulos. O limite de 100 miligramas é entendido como seguro para as pessoas intolerantes.
 


 
Mesmo quem é intolerante pode tomar
O diagnóstico de intolerância à lactose é difícil. Afinal, um sem-número de enfermidades pode estar associado a sintomas como inchaço abdominal e complicações intestinais. Por isso, também é difícil encontrar dados exatos sobre a prevalência da intolerância pelo mundo afora.
 
No entanto, nem mesmo a confirmação clínica de ter entrado para o grupo dos intolerantes é motivo para fechar a boca para os lácteos.
 
Para começo de conversa, estamos falando de um distúrbio que os médicos descrevem como volume dependente. Isso quer dizer que é sempre possível encontrar a cota segura para você consumir de acordo com seu estoque de lactase --lembrando que o declínio da enzima varia de pessoa para pessoa.
 
Os especialistas dizem que, em geral, todo mundo tolera bem cerca de 12 gramas de lactose, o equivalente a um copo de leite.
 
Se o seu intestino chiar mesmo dentro desse limite, dá para experimentar outros recursos. Um deles é fracionar essa quantidade ao longo do dia, assim a chegada gradual de lactose ao intestino facilita o trabalho da lactase.
 
“Para aumentar a confusão, às vezes a pessoa tem resultado positivo em testes genéticos feitos para acusar a intolerância, mas a lactose que não é digerida passa pelo seu intestino sem causar problemas. Ou seja, não é todo mundo que apresenta sintomas, quando a enzima que quebraria esse açúcar está em falta. “
Mariana Del Bosco, nutricionista de São Paulo
 
Não confunda intolerância com alergia
Intolerância à lactose não é a mesma coisa de alergia ao leite. Está aí uma confusão que precisa ser desfeita
 


Alergia ao leite
A alergia é uma reação do organismo a uma proteína do leite, conhecida pela sigla APLV. Nessa condição, a pessoa não pode ter o mínimo contato com leite ou qualquer um de seus derivados, mesmo aqueles livres de lactose. Quando alguém é alérgico, ainda que consuma um tantinho só da tal proteína APLC, isso já é suficiente para disparar reações. Elas vão de coceira e manchas avermelhadas na pele a quadros de falta de ar que, em última instância, podem até colocar a vida em risco.
 


Intolerância
A intolerância alimentar acontece quando o organismo tem dificuldade em processar um alimento. É como se o organismo não entendesse que comida é aquela e, ao longo do tempo, se esforça tanto para digeri-la que desgasta a mucosa do intestino, deixando-a sensível. Portanto, a intolerância está relacionada a uma dificuldade digestiva, que pode ser contornada sem que a pessoa abra mão dos laticínios. Há, inclusive, uma linha todinha de produtos zero lactose para isso.



 
Nem todo laticínio é lotado de lactose


Leite
A carga de lactose é mais alta no leite. Seja ele integral ou desnatado, são cerca de 7,5 gramas desse açúcar por 100 ml da bebida. E saiba que a versão integral é até mais bem recebida pelo organismo de quem sofre de intolerância. Por causa da maior quantidade de gordura contida nesse tipo, o esvaziamento gástrico ocorre mais lentamente. Ou seja, não chega no intestino uma quantidade gigante de lactose para ser quebrada de uma só vez.
 

Queijos
No caso dos queijos, quanto mais maturados, menor a concentração de lactose --isto é, ela vai sendo eliminada no processo de maturação. Os queijos frescos, por sua vez, contêm doses mais elevadas, até porque a lactose se concentra no soro.
 

Iogurtes
Nos iogurtes, ela é transformada em ácido lático pelas bactérias usadas em sua produção, derrubando significativamente os níveis da substância em cada potinho.
 

Manteiga
A manteiga é outro produto lácteo que dificilmente causa algum agravo na barriga por causa da lactose. O que sobra dela ao fim de seu processo de fabricação é praticamente irrelevante.
 

Leite condensado
Já o ingrediente principal do brigadeiro pode ser problemático para os intolerantes. Afinal, o leite é condensado e a lactose, por tabela, também.

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