12/09/2017 às 14h28min - Atualizada em 12/09/2017 às 14h28min

Estádio onde Fluminense jogou em 2016 foi liberado após propina para bombeiros, dizem polícia e MP

Grupo de bombeiros investigados entregava documentações em troca de propina, sem fiscalização. Até as 11h, 34 pessoas haviam sido presas preventivamente.

g1.globo.com/
As investigações que levaram à prisão de pelo menos 34 pessoas na manhã desta terça-feira (12), a maioria de bombeiros militares, incluem o pagamento de propina para liberar alvará para jogos do time do Fluminense no estádio de Edson Passos, em Mesquita, na Baixada Fluminense, durante o ano de 2016. O estádio pertence ao América Football Club. "Em determinada conversa, isso é dito. O estádio funcionou sem autorização. Foi dada uma autorização prévia sem o cumprimento das exigências", afirmou a delegada Renata Araújo.
 
O documento irregular no caso do estádio Edson Passos era o Laudo de Prevenção e Combate a incêndios (LPCI). De acordo com o Ministério Público, a suspeita recai sobre o setor de engenharia do quarto grupamento, em Nova Iguaçu. Existe a chance de o esquema existir além dos grupamentos de Duque de Caxias e Nova Iguaçu.
 
"Hoje em dia, por conta da rotatividade, alguns ocupam postos de comando fora da Baixada [Fluminense]. Hoje, foi arrecadado uma farta quantia em dinheiro na casa de um dos comandantes de grupamento da capital: R$ 140 mil", disse o promotor Fabio Corrêa, referindo-se ao comandante do grupamento de Irajá, Alex Silvandré.
 
O pagamento das propinas e a corrupção serão objeto de outras investigações. "A gente tem que apurar a lavagem de dinheiro e a corrupção. Outras investigações já estão em andamento", afirmou a delegada Renata Araújo, titular da delegacia fazendária e membro da Corregedoria Geral Unificada das polícias.
 
O G1 entrou em contato com o Fluminense e o América, mas até a última atualização dessa reportagem não houve resposta do clube.
 
Até as 12h, 34 pessoas haviam sido presas preventivamente, sendo 32 bombeiros e dois empresários, e 67 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Dentre os mandados de prisão, expedidos pela 1ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, estão os de dois assessores especiais do Comandante Geral do CBMERJ, dos Comandantes da Baixada Fluminense, Nova Iguaçu, Irajá, (ex-comandante de Duque de Caxias), GOPP, Copacabana, Campinho, Jacarepaguá e do Destacamento de Paracambi e de sete Coronéis da reserva.
 

 
A operação foi batizada de "Ingenium", que significa engenharia, em latim. As investigações tiveram como base escutas telefônicas de bombeiros militares que revelaram uma organização criminosa de venda ilegal de documentos para funcionamento de estabelecimentos comerciais. Os esquemas de corrupção ocorriam no âmbito do setor de engenharia de diversos grupamentos militares, principalmente no 4º GBM (Nova Iguaçu), no 14º GBM (Duque de Caxias) e no GOPP (Grupamento de Operações com Produtos Perigosos).
 
"Essa investigação começou quando um dos alvos mencionou o pagamento de propina para liberação de documentos envolvendo construções dentro de um dos grupamentos de engenharia do corpo de bombeiros", afirmou o promotor do Gaeco na Baixada, Fabio Corrêa.
 

 
Com intuito de possibilitar a prática criminosa, dois assessores especiais do Comandante Geral do CBMERJ indicavam os Comandantes destas unidades. Estes contavam com a participação dos bombeiros lotados no setor da engenharia, além de bombeiros militares da reserva e civis, que intermediavam os pagamentos das propinas pagas por empresários para obtenção do documento que permitia o funcionamento do empreendimento.
 
Os suspeitos se aproveitavam da condição de bombeiro militar para fiscalizar os estabelecimentos no intuito de notificar os responsáveis e, desta forma, provocar um acordo para negociar valores ilícitos. Em seguida, os acusados emitiam um laudo de exigências contendo todos os requisitos de segurança contra incêndio e pânico, porém, mesmo sem o cumprimento destas normas, após o pagamento de propina, os criminosos expediam o documento que atestava o cumprimento de todas as exigências.
 
A operação também contou com apoio da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança (SSINTE), da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e de Inquéritos Especiais (DRACO-IE) e da Polícia Civil.
 
Todos os 34 presos foram denunciados por organização criminosa, com pena prevista de 3 a 8 anos.
 
Estrutura da quadrilha
Os líderes da quadrilha, dois assessores-especiais do Comandante Geral do Corpo de Bombeiros, indicavam comandantes dos batalhões e dos setores de engenharia dos grupamentos do Corpo de Bombeiros.
 
"A partir daí, esses setores concediam autorizações de funcionamento sem preenchimento de todas as medidas ou criavam dificuldades para que a pessoa que precisava daquela documentação cedesse. Isso funcionava através do próprio setor ou através de intermediários", explicou Fábio Corrêa. "Seja através da pessoa que buscava esse documento ou de bombeiros que recebiam um percentual da propina".

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